quarta-feira, 12 de maio de 2010

LEFTH BEHIND É BÍBLICO?

Nada prendeu mais a imaginação do cristão em tempos recentes do que o LEFT BEHIND (DEIXADOS PARA TRÁS). Esse é o título de uma novela dentre as mais vendidas e de uma série de grande sucesso e motivação para uma sequência de filmes de milhões de dólares. Left Behind alega estar baseada nas profecias bíblicas escatológicas, no retorno secreto de Jesus, no desaparecimento instantâneo de cristãos e no anticristo que assume o governo do mundo.
Left Behind surgiu primeiramente em 1995. De autoria de Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, o livro se tornou um best-seller, por isso seus autores e editores (Tyndale Publishing) decidiram lançá-lo na série de 12 fascículos. Dos 11 volumes impressos até agora, a maioria figurou nas listas de best-sellers do New York Times, do Wall Street Journal e da USA Today. Barnes e Noble até o considerou "a série mais vendida de todos os tempos".
Em Fevereiro de 2001, Left Behind (o filme) chegou ao cinema de todos os Estados Unidos. O segundo filme, Tribulation Force, baseado no livro número dois da série com o mesmo título, foi lançado em 2002. Com mais um livro à frente, e pelo menos mais um filme planejado, a paixão por Left Behind continua aumentando ao redor do mundo. Não é raro ver exposições de toda a serie nas lojas dos aeroportos e lojas de departamentos. E isso não é somente um fenômeno americano. As novelas foram já traduzidas em muitos idiomas ao redor do mundo.

TEOLOGIA BÁSICA DO LEFT BEHIND

A teologia básica da série é esta: em primeiro lugar, "o arrebatamento secreto" produz o desaparecimento imediato de todos os verdadeiros cristãos, que são repentinamente tomados da Terra elevados ao céu. Esse arrebatamento é seguido por um período de sete anos de tribulação que atinge todos os que foram "deixados para trás". Um homem interiormente mau que parece ser o Sr. Bom Sujeito, mas que realmente é o Sr. Pecado, isto é, o anticristo, surge rapidamente para pôr ordem no caos. Enquanto a saga prossegue, um grupo de novos crentes que aceitaram a Jesus Cristo após o arrebatamento, percebem claramente o disfarce do anticristo e se tornam a Tribulation Force (Força da Tribulação) contra o homem do inferno. O sinistro anticristo, chamado Nicolae Carpathia nas novelas e nos filmes, volta suas armas de guerra contra os judeus, que são ainda considerados o povo escolhido de Deus. Ao término da tribulação, como clímax do drama, Jesus Cristo retorna de forma visível para vencer Carpathia e sua rede global de partidários, salvando a Força da Tribulação e libertando os judeus do armagedom.
Embora a série seja nitidamente uma ficção, suas ideias nucleares são agora aceitas por muitos cristãos pelo mundo inteiro, tendo-lhes sido expostas através da mídia, revistas, livros, cursos, seminários e Internet.

Suas ideias centrais podem ser resumidas como segue:
  1. O arrebatamento secreto, que traslada a igreja de Deus da Terra para o céu;
  2. Uma tribulação de sete anos para todos os que ficarem para trás;
  3. O surgimento do anticristo, que assume o governo do mundo;
  4. A batalha final entre o anticristo e os judeus, que são libertados no Armagedom.

 ARREBATAMENTO SECRETO - essa ideia é a pedra de esquina de uma escola teológica conhecida como Futurismo Dispensacional. Sua doutrina básica é que todas as promessas feitas por Deus no Velho Testamento à nação de Israel ainda estão intactas, mas só podem ser cumpridas literalmente depois de a "atual dispensação da Igreja" chegar ao seu final. Essa "dispensação da Igreja" que começou no Pentecostes, continua até o arrebatamento, quando Cristo retornará secretamente para levar Sua igreja ao céu. Assim que isso tiver lugar, Deus pode então cumprir Suas promessas aos judeus.
Embora os defensores do arrebatamento secreto usem vários textos bíblicos apoiar seus pontos de vista, como Mateus 24:40-41, nós nos concentramos em I Tessalonicenses 4:17, já que isso é que é enfatizado frequentemente pelos autores da série. Nesse texto, Paulo declara que quando Cristo voltar, todos os crentes vivos serão "ARREBATADOS". De acordo com o Left Behind e os futuristas dispensacionalistas, "ARREBATADOS" aqui significa desaparecer sem deixar rastros. Esse acontecimento é interpretado como algo que será obviamente notado, mas não compreendido pela maioria do mundo. Jesus supostamente retornará silenciosamente, em secreto, de maneira invisível, não percebido pelo mundo, para arrebatar Sua Igreja e levá-la para o céu. Depois que todos os cristãos houverem desaparecido, o mundo entrará num período cataclísmico de sete anos de tribulação.
Mas aqui está o problema: o contexto de  I TESSALONICENSES 4:17 revela que o retorno de Cristo é tudo, menos secreto! No verso 16, Paulo diz claramente: "Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus..."(NVI) Certamente essa descrição não pode denotar silêncio ou sigilo, mas abertura e sonoridade. O verso 15 se refere à descida de Cristo como "a vinda do Filho do Homem". A palavra grega para "vinda" é parousia, que também é usada em Mateus 24:27 para descrever o visibilíssimo retorno de Jesus Cristo como relâmpago que resplendece pelo céu. Pode o relâmpago ser secreto ou invisível?
Além disso, observe o contexto do verso de Paulo. Ele não ensina que aqueles que não forem "ARREBATADOS" serão conduzidos a um período de sete anos de tribulação. Mas explica que sofrerão "REPENTINA DESTRUIÇÃO" e que "NÃO ESCAPARÃO" (I Tessalonicenses 5:3). Um estudo cuidadoso de I Tessalonicenses 4:15 até 5:3 revela claramente que a segunda vinda de Jesus não resulta em um arrebatamento secreto conducente a uma tribulação de sete anos; mais exatamente, a segunda vinda é um retorno visível, audível e glorioso de Jesus. Na vinda dEle, os santos são ressuscitados dentre os mortos e , juntamente com os santos vivos, os redimidos de todas as eras encontrarão com o Senhor "nos ares".

TRIBULAÇÃO DE SETE ANOS - Os dispensacionalistas também ensinam que haverá uma tribulação de sete anos após o arrebatamento secreto. Eles obtêm esse perído septenal de uma interpretação especulativa de Daniel 9:27: "Com muitos ele fará uma aliança que durará uma semana. No meio da semana Ele dará fim ao sacrifício e à oferta"(NVI).
Há dois problemas com a interpretação dispensacionalista dessa profecia. Primeiro, eles tomam a última semana da profecia das 70 semanas de Daniel 9:24-27, e a colocam em um futuro distante, ocasião em que o arrebatamento deve ocorrer e o anticristo se manifestar. Mas um estudo de Daniel 8 e 9 revela claramente que as 70 semanas são um período ininterrupto a ser cumprido da primeira à 70 semana em um alinda de tempo histórico. Interpretação profética correta e exegese coerente não permitem projetar a última semana a algum período futuro.
O segundo problema é mais sério. De acordo com o princípio dia-ano em profecia (Ezequiel 4:6), "uma semana" quer dizer sete anos literais. Durante esse período, diz Daniel: "Com muitos Ele fará uma aliança que durará uma semana. No meio da semana Ele dará fim ao sacrifício e à oferta." Daniel 9:27.
A quem "ELE" se refere? Os dispensacionalistas o interpretam como o anticristo que surgirá no futuro, o "Nicolae Carpathia" dos autores de Left Behind - um período futuro de sete anos que terá início com o arrebatamento e que continuará com a tribulação. Mas aqui há outro problema: os eruditos bíblicos do passado têm coerentemente interpretado "ELE" como JESUS CRISTO, e o "CONCERTO" firmado como o novo concerto ratificado pela morte de nosso Salvador, há mais de dois mil anos atrás (ver Mateus 26:28), não um tratado de paz de sete anos feito pelo anticristo com os judeus após o arrebatamento.
Observe com atenção mais uma vez: Daniel 9:27 não pode se referir a um tratado de paz, mas ao novo concerto que o Messias estabelecerá. Na Bíblia, o anticristo jamais confirma qualquer concerto. Esse papel é exclusivo do Messias. A "metade" da semana seria três anos e meio dos sete, duração exata do ministério de Cristo. Depois de três ano e meio, através de Sua morte na cruz, Jesus fez cessar "o sacrifício". Ele é o sacrifício final e Sua morte cumpre a profecia de Daniel perfeitamente.
Ver Cristo como "ELE" na profecia, o qual afirmou o concerto e fez com que os sacrifícios judaicos cessassem através de Sua morte na cruz, é a única posição coerente a interpretação e a escatologia bíblicas.

SURGIMENTO DO ANTICRISTO - Os dispensacionalistas também ensinam que o anticristo é um individuo ímpio que aparecerá depois do arrebatamento. Mas observe, caro leitor, o que a Bíblia diz. O termo anticristo é usado apenas  cinco vezes nas Escrituras (I João 2:18 e 22; 4:3; II João 7). Todos esses versos mostram que não apenas "um homem" chamado anticristo, mas "muitos anticristos" (I João 2:18,NVI). João também diz: "Eles saíram de nosso meio" (verso 19), indicando que esses anticristos surgiram dentro da igreja, não fora, e o apóstolo indicou que eles já estavam atuando em seu tempo. Por isso, de um modo geral, o anticristo representa essas forças que assumem o nome de "cristãs", mas ensinam e praticam doutrinas que são anti bíblicas e contraditórias à posição e ao papel de Cristo, e que não hesitariam em perseguir aqueles que permanecem leais e fiéis a Cristo e a Seus ensinos.
A profecia também prediz o surgimento de "UM CHIFRE PEQUENO" misterioso (Daniel 7:8), que é identificado por Paulo como "o homem do pecado" (II Tessalonicenses 2:3), e por João como "a besta" (Apocalipse 13:1). A maioria dos eruditos aplica essas frases a uma só pessoa e a mesma entidade. Além disso, Daniel 7:23 define claramente a besta como um reino e não um homem.
O "CHIFRE PEQUENO" de Daniel também faz guerra contra os santos e prevalece contra eles na história cristã (Daniel 7:21). Embora esse breve artigo não possa dar provas exaustivas sobre a razão de nossos antepassados protestantes estarem corretos em sua interpretação dessa profecia, é um fato histórico que por mais de 400 anos - até os fins de 1800 - a maioria dos eruditos batistas, metodistas, presbiterianos, luteranos e menonistas aplicaram as profecias do anticristo, não ao futuro Sr. Pecado que se manifesta depois de os fiéis serem arrebatados, mas à organização da igreja de Roma perseguidora dos santos.
"Lutero provou, pelas revelações de Daniel e João, pela epístolas de Paulo, Pedro e Judas, que o reino do anticristo, predito e descrito na Bíblia, era o papado" (Merle D'Aubigné, History of the Reformation of the Sixteenth Century, 1846, volume 2, cap. XII,p.215).

BATALHA FINAL ENTRE O ANTICRISTO E OS JUDEUS -  O Futurismo Dispensacional considerados principais competidores terrenos no Armagedom como sendo o anticristo e a nação de Israel, não a Igreja. Na realidade, uma separação distinta entre Israel e a Igreja de Deus é absolutamente essencial ao enredo arrebatamento-anticristo-Israel. Se pudermos provar no Novo Testamento que na era cristã o Israel de Deus é a própria Igreja de Deus, então poderemos atesta quão equivocado e anti bíblico é o dispensacionalismo.
Em primeiro lugar, o Novo Testamento fala sobre a realidade de dois Israéis - "o Israel segundo a carne" (I Coríntios 10:18) e o "Israel de Deus" centralizado em Jesus Cristo (Gálatas 6:14-16). Paulo escreveu: "Nem todos os descendentes de Israel são Israel" (Romanos 9:6,NVI). O que ele quis dizer é que todos os que pertencem à nação israelita não são o Israel de Deus na era pós-cruz. Em outras palavras, alguém pode ser judeu, um descendente literal de Abraão, mas pela incredulidade e uma vida segundo a carne, não fazer parte do Israel de Deus. Aqueles que pertencem ao Israel de Deus conhecem a Deus por da fé pessoal em Jesus Cristo (Gálatas 3:7,14; 6:14-16).
No Velho Testamento, Israel é claramente mencionado como "a semente de Abraão" (Isaías 41:8). No Novo Testamento, Paulo disse aos seus conversos gentios: "E, se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa" (Gálatas 3:29,NVI). Assim os crentes gentios se tornaram parte do Israel de Deus. Efésios 2 é muito claro: Jesus Cristo, na cruz, destruiu a barreira de separação entre crentes judeus e crentes gentios, e os uniu misteriosamente em "um novo homem" e "em um corpo" (Efésios 2:14-17,NVI). Portanto, toda essa posição dispensacional de separação do legítimo Israel de Deus de Sua verdadeira Igreja é contrária à missão da cruz.
Além disso, em Apocalipse 16:12-16, onde o Armagedom é mencionado, nada é dito sobre uma batalha entre o anticristo e os judeus; nem o texto diz que Cristo vem de forma secreta precedendo essa batalha para arrebatar os santos. Ao invés disso, o texto descreve a "batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso" - entre os espíritos de demónios (incluindo o anticristo) e as forças do bem. A vitória divina na batalha é garantida pela promessa: "Eis que venho como ladrão", referindo-se à segunda vinda de Cristo (Apocalipse 16:15,NVI; ver também I Tessalonicenses 5:2).
A mensagem da Bíblia é clara. O caminho da salvação está aberto agora a todos, inclusive aos judeus. Mas na segunda vinda de Jesus, tanto os ressuscitados como os santos vivos encontrarão com o Senhor "NOS ARES" (I Tessalonicenses 4:17,NVI), na mais gloriosa e pública manifestação do triunfo de Deus sobre o pecado e a morte, sobre Satanás e seus agentes malignos. Depois da segunda vinda, não haverá oportunidade de salvação.
A saga do Left Behind pode ser popular e suas ideias propagarem-se pelo mundo. Todavia, o sólido ensino bíblico é contra cada uma das quatro posições centrais sobre as quais o fenômeno está apoiado. Esta série DEIXA PARA TRÁS a verdade bíblica e confia na especulação humana e na fantasia teológica.

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