quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sábado: um dia de alegria, um dia de liberdade

Aceitei Jesus como meu Salvador pessoal por volta dos meus oito ou nove anos. O evangelho teve um impacto impressionante sobre mim, e seu poder me libertou não só do que eu considerava como grandes pecados, mas também de meus medos e apreensões. Regozijei-me com a força do evangelho. A experiência do perdão foi tão real que não hesitei em compartilhar Jesus com os meus amigos, professores e vizinhos. Observava o domingo fielmente, ia à igreja de manhã, e na hora do louvor à noite. Ainda que os sermões de nosso pastor, pregados de um alto e sublime púlpito num estrondoso tom de voz, fossem geralmente enfadonhos e por vezes assustadores, nunca perdi um culto nas manhãs de domingo. Era um fiel guardador do domingo.
Então, em um verão, um jovem evangelista armou a sua tenda em nossa cidade e pregou verdades até aquele momento desconhecidas como as profecias de Daniel e Apocalipse, o breve retorno de Jesus, a condicional imortalidade da alma, o dízimo, e o sábado. Cada verdade saltava da Bíblia, e nada que foi ensinado ficou sem o suporte das Escrituras.
Assim, foi que escolhi me unir ao primeiro guardador do sétimo dia, o sábado: Deus. Eu O conhecia antes, mas agora parece que O conheço mais profundamente. Logo, tornei-me alvo de gracinhas de meus amigos e um objeto de escárnio para o meu pastor anglicano. “Você não está sendo tolo em faltar às aulas no sábado?”, perguntavam meus amigos e professores.  “Você é um legalista, um escravo da lei, e você não pode ter o gozo do Evangelho”, dizia o pastor, que nunca havia dito tal coisa, quando eu era um fervoroso guardador do domingo.
Cerca de seis décadas depois, digo com confiança e entusiasmo que posso ter sido um tolo no sentido paulino, mas certamente não um legalista. Minha comunhão com Deus aumentou, não diminuiu, porque escolhi seguir a Ele, a Seu Filho (Lucas 4:16) e a Seus apóstolos (Atos 13:14, 42) ao observar o sábado do sétimo dia. A alegria do evangelho só tem aumentado com a descoberta do sábado. Poderia abraçar o evangelho tão integralmente como sempre e manter o sétimo dia santo, sem perder a alegria da liberdade, ou sucumbir aos perigos do legalismo.
Digo isso por quatro razões bíblicas: (1) o sábado me diz quem eu sou, ( 2) o sábado me lembra que Jesus morreu pelos meus pecados, (3) o sábado me concede comunhão, e (4) o sábado aponta para o meu repouso eterno em Deus.
O sábado me dá uma identidade
Vamos começar pelo princípio: “E, havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera” (Gênesis 2:2, 3).1
O sábado do sétimo dia mostra que Deus é o meu Criador. Um cientista pode dizer que sou “um aglomerado acidental de átomos”.2 Um filósofo pode delinear a minha vida por um princípio primário. Um poeta pode dizer que a vida é “um conto narrado por um idiota, repleto de som e fúria, nada significando”.3 Mas não posso e não deveria dizer isso. Por ter sido feito à imagem de Deus, o sábado continuamente me faz recordar desse fato magnífico, e ele me convida a entrar no repouso de Deus, assim como convidou Adão e Eva. O sábado é para me unir ao Criador, para celebrar o gozo da vida e reconhecer sempre que a vida não surge como resultado do nosso trabalho, mas como um dom da graça de Deus.
Aquele que nos fez, também fez o sábado. Ele descansou nele. Não que Ele estivesse exausto e precisasse de descanso (Isaías 40:28), mas Ele escolheu estabelecer um dia, consagrá-lo, e torná-lo santo, a fim de que a humanidade pudesse escapar da tirania da preocupação material e entrar na santidade do descanso, adoração e comunhão. Não é um dia de labuta, mas um dia de prazer, uma experiência de alegria suprema que só pode acontecer quando alguém comunga de coração a coração com o próprio Criador. Não foi o caso de Adão e Eva, quando eles, com “as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam” (Jó 38:7), curvaram-se perante o seu Criador em culto e adoração naquele primeiro sábado?
Poderia o culto, o louvor, a adoração e a comunhão serem algo mais que uma experiência alegre – reconhecendo a soberania do Criador, por um lado; e de nossa identidade como membros da família de Deus, por outro? A relação entre o sábado e a alegria, entre a obediência a Deus e o deleite da alma, em lugar algum foi declarado de maneira mais eloquente do que em Isaías 58:13 e 14: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do Senhor o disse.”
Guarde essa passagem. É endereçada ao povo de Deus. Eles não se tornaram o povo de Deus porque estavam guardando o sábado. Eles eram o povo de Deus, porque Deus os havia criado e escolhido. Para reconhecer essa escolha, para cimentar o relacionamento que emerge disso, Deus nos conclama a guardar o sábado. Assim, o sábado não é uma restrição legalista. É um ponto na linha do tempo através da eternidade para nos lembrar continuamente de nosso relacionamento especial com Deus. E é “um deleite no Senhor”.
O sábado me lembra de que Deus é o meu Redentor
O sábado não só me dá identidade, mas também me faz lembrar de que sou parte da redimida família de Deus. Quando nós, cristãos, recitamos os Dez Mandamentos, normalmente começamos com as palavras: “Não terás outros deuses diante de Mim” (Êxodo 20:3). Porém, os judeus o fazem de maneira distinta. Eles começam com a introdução dos versos 1 e 2: “Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.”
Entenda a diferença. Deus não escolheu Israel porque era um povo formado por boas pessoas, obedecendo à lei de Deus. Não, Deus os escolheu pela Sua misericórdia, pelo Seu amor e graça. Quando eles eram escravos no Egito, quando não tinham dignidade, Deus Se lembrou deles, os redimiu e fez deles o Seu próprio povo. Para proteger esse íntimo, reconciliado e redimido relacionamento, Ele lhes deu a lei como uma expressão de Sua eterna natureza moral, e Ele os convidou a fazerem parte de Sua família. Não há legalismo aqui; só liberdade – liberdade eterna, iniciada e preservada pela Sua graça somente.
Assim, os Dez Mandamentos são princípios definindo o redentor estilo de vida de Deus para a raça humana. O quarto mandamento, de certa forma, é único. Ele ordena ao povo de Deus que “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar” (Êxodo 20:8), pois em seis dias o Senhor completou a obra da criação “e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Êxodo 20:11). Seis dias estão designados para fazermos o nosso trabalho, mas quando o sétimo dia chega, é hora de lembrarmos que não somos donos de nós mesmos. Pertencemos ao Criador e Redentor. Não deve ser permitido nos seis dias de trabalho minimizar ou ignorar a magnificência de um dia único de adoração, comunhão e descanso. “O sábado é o dia em que aprendemos a arte de superar a civilização”4 e experimentar o mistério da comunidade de Deus.
Se o Êxodo determina a criação como a razão para a observância do sábado, Deuteronômio fornece uma razão complementar: “Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado” (Deuteronômio 5:15).
A observância do sábado é um constante e claro lembrete de que não somos de nós mesmos. Somos de Deus. Sem Ele, nada somos. Ele nos criou. Ele nos sustenta. E então, estamos em um Egito por nossa conta – opressão do pecado, solidão, desespero, tédio, servidão e morte. Por causa desse Egito, não podemos por nós mesmos marchar para a liberdade. Precisamos da “mão poderosa” e de “um braço estendido” de Deus. Daí a cruz: “O sangue de Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 João 1:7).
O sopro de Deus nos criou, o sangue de Jesus nos redimiu. Esses poderosos feitos são para ser lembrados pela guarda do sábado. Cada semana, celebramos o sábado em reconhecimento de que “o Poder que criou todas as coisas é o que torna a restaurar a alma à Sua própria semelhança”.5 Por esta razão, temos o clamor de Ezequiel: “Também lhes dei os Meus sábados, para servirem de sinal entre Mim e eles, para que soubessem que Eu sou o Senhor que os santifica” (Ezequiel 20:12).
O sábado provê comunhão
Diante do fato de que o sábado nos faz lembrar de Deus como nosso Criador e Redentor, devemos adicionar rapidamente algo mais. É um dia de comunhão e adoração, quando a família de Deus se reúne em um absoluto senso de indignidade ante o seu Criador, e de unidade e igualdade entre si. “Diante do trono de Deus”, escreve Ludwig Koehler, “dificilmente haverá um depoimento maior a seu favor do que a declaração” seguinte: “Ele teve tempo para mim.”6
O mandamento ordena ao crente lembrar que o sábado é um grande nivelador das pessoas: o pai e o filho, o professor e o aluno, o banqueiro e o barbeiro, o estranho dentro dos portões, todos devem ser envolvidos pelo descanso do sábado. Assim, “o sábado”, diz Heschel, “é uma personificação da crença de que todos os homens são iguais e de que a igualdade dos homens significa a nobreza dos homens.”7 Essa não é a igualdade humana que proclama o evangelho (Efésios 2:11-16).
Não podemos observar o sábado sem levarmos a sério a responsabilidade social que vem com ele. A adoração não é suficiente; a comunhão deve acompanhá-la. Temos de nos tornar responsáveis por nossos vizinhos. O próprio Jesus não apontou para essa obrigação social da vida em seu sermão sabático em Nazaré (Lucas 4:16-19)? Mesmo tendo Ele observado o sábado, “como era o Seu costume”, Ele não deixou de salientar que tal observância tem significado apenas quando se compromete “a pregar as boas novas aos pobres, a proclamar a liberdade aos cativos e restaurar a visão aos cegos” e “por em liberdade os oprimidos”. E anunciar o ano que o Senhor veio!
O sábado aponta para o descanso eterno
Lá em Nazaré, em Seu discurso inaugural sobre o reino de Deus, Jesus associou a observância do sábado à proclamação das boas-novas. O evangelho nos liberta da escravidão do pecado. Como seres livres, não como escravos, chegamos à adoração e louvor a Deus como nosso Criador e Redentor. Esse reconhecimento é sem dúvida uma tarefa contínua e diária, mas no sábado, ela se torna uma tarefa extremamente especial – cessamos todo o trabalho, reafirmamos o nosso autoabandono, nos achegamos ao Criador em entrega total, e entramos em Seu descanso. Esta entrada em Seu descanso é um simbolismo da entrada no descanso eterno que Hebreus fala: “Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hebreus 4:9).
A continuidade do presente para o futuro, da realidade atual à esperança futura, não pode ser desperdiçada. Assim como a certeza de que o reino da graça e as bênçãos da salvação são uma experiência presente e uma futura antecipação, assim são as bênçãos do sábado, uma experiência presente e uma indicação da futura entrada no descanso no reino da glória de Deus. Nesse contexto, a profecia de Isaías assume um significado especial: “Porque, como os novos céus e a nova terra, que hei de fazer, estarão diante de Mim, diz o Senhor... e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante Mim, diz o Senhor” (Isaías 66:22, 23). Assim, o sábado liga a alegria de hoje com a esperança de amanhã, é um dia que celebra o evangelho e reconhece a soberania de Deus. Karl Barth diz que ele aponta para “o Deus que é piedoso para o homem em Jesus Cristo... Ele aponta para si mesmo, longe de tudo o que ele pode desejar e realizar e volta para o que Deus representa para ele e fará por ele.”8
Adotando o evangelho e observando o sábado
É a insistência na observância do sábado – especialmente o sétimo dia bíblico – legalista? Podemos também fazer a pergunta: Pode a insistência bíblica sobre um determinado estilo de vida – compaixão, amor, andar a segunda milha, as bem-aventuranças – ser legalista? A resposta é Sim e Não, e depende da motivação. Um legalista guarda a lei ou segue um determinado estilo de vida como um caminho de salvação, porém nenhum montante da guarda do sábado ou qualquer outro mandamento pode salvar uma pessoa. A salvação é possível somente pelo evangelho de Jesus Cristo, pois “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1:16). “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8, 9).
Os fariseus acusaram Jesus de transgredir a lei, porque Ele curava no sábado (Lucas 6:6-11, Marcos 3:3-6, João 5:1-16), e a resposta de Jesus, em cada caso foi consistente com o significado do sábado que é um dia para trazer glória a Deus e não para satisfazer a si mesmo. Os milagres de Jesus mostraram o verdadeiro propósito da Sua vinda: restaurar e resgatar a vida. A obsessão farisaica foi o legalismo, a atitude de Jesus foi a graça em ação. Ellen White disse muito bem: “Deus não poderia por um momento deter Sua mão, do contrário o homem desfaleceria e viria a morrer. E o homem também tem nesse dia uma obra a realizar. Devem-se atender às necessidades da vida, cuidar dos doentes, suprir as faltas dos necessitados. Não será tido por inocente o que negligenciar aliviar o sofrimento no sábado. O Santo dia de repouso de Deus foi feito para o homem, e os atos de misericórdia se acham em perfeita harmonia com seu desígnio. Deus não deseja que Suas criaturas sofram uma hora de dor que possa ser aliviada no sábado, ou noutro dia qualquer.”9
O discipulado cristão não é a realização de um estatuto moral, mas a recepção da chamada de Cristo; não é a perfeição moral, mas uma constante permanência nEle. É uma relação de amor com Jesus. Uma vez que essa submissão é estabelecida, os frutos seguem o seu curso natural. O princípio é simples: primeiro a graça, então a obediência. A obediência não produz o amor; o amor produz a obediência. A obediência não traz o perdão; a graça faz isso. Qualquer tentativa para distorcer a ordem conduz inevitavelmente ao legalismo. E ao rejeitar o legalismo qualquer tentativa de negar a obediência do seu papel no discipulado se transforma em graça barata. O discipulado cristão não tem espaço nem para a heresia do legalismo, nem para o luxo da graça barata.
Assim, os cristãos, que amam a seu Senhor e que são salvos por Sua graça, vão obedecer ao seu Senhor. A aceitação do evangelho é o primeiro passo; a observância do sábado é um inevitável seguimento – um prazer no Senhor. Pois o sábado é “um êxodo da tensão, um santuário no tempo, um palácio no tempo com um reino para todos”, e da sua observância “a coroação de um dia no país das maravilhas espirituais do tempo”.10
Podemos chegar a essa terra maravilhosa só quando aceitamos Deus como nosso Criador e Redentor.
John M. Fowler, Ed.D., diretor-associado do Departamento de Educação da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia e editor da Diálogo. E-mail: fowlerj@gc.adventist.org
REFERÊNCIAS
1. Todas as passagens bíblicas neste artigo são extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA).
2. Bertrand Russell. Mysticism and Logic. New York: Doubleday, 1929. p. 45.
3. Shakespeare. Macbeth, Act V, 5, 17.
4. Abraham Joshua Heschel. The Sabbath: Its Meaning for Modern Man. New York: Publicadora The Noonday, 1975. p. 27.
5. Ellen G. White. Testemunhos Seletos. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993. Vol. 3, p. 17.
6. Ludwig Koehler. “The Day of Rest in the Old Testament”. In: Lexington Theological Quarterly, Julho, 1972. pp. 71, 72. Citado em Sakae Kubo. God Meets Man. Nashville, Tenn.: Publicadora Southern Assn., 1978. p. 29.
7. Abraham Joshua Heschel. God in Search of Man. New York:Companhia de Publicações The World., 1959. p. 417.
8. Karl Barth. Church Dogmatics. Edinburgh: T & T Clark, 1961. Vol. III, part 4, p. 53.
9. Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003. p. 207.
10. Heschel. The Sabbath. pp. 29, 21, 18.

ESPECIALISTA ADVENTISTA EM ARQUEOLOGIA PARTICIPA DE CONCEITUADO PROGRAMA DE TV


Pela terceira vez consecutiva, o teólogo adventista e
 especialista   em arqueologia, Dr. Rodrigo Silva, professor 
do Centro Universitário Adventista (Unasp),  participou de um 
dos mais importantes programas  de entrevista da televisão  brasileira, 
o Programa do Jô. Apresentado há  anos por Jô Soares, na TV Globo, 
 o talkshow costuma dar espaço para pessoas com assuntos que 
despertem a curiosidade e interesse do grande público e segue 
formato de programas conceituados e tradicionais de entrevistas 
norte-americanos.





Silva, que está concluindo seu segundo doutorado em arqueologia, 

compareceu ao programa com um grupo de alunos do Unasp, que
 estavam na plateia e gravou o material na tarde de segunda-feira, 
dia 29 (que foi ao ar na mesma noite). Enquanto ocorria a entrevista, 
Jô Soares mostrou jarros da época de Jesus Cristo, acompanhado 
de explicações precisas do especialista que comprovavam o contexto 
histórico no qual Jesus estava inserido. Outros materiais, anteriores à 
época de Cristo, também foram exibidos. Foi o caso de um curioso 
comprovante de imposto de renda datado de dois mil anos 
antes de Cristo, proveniente da histórica cidade de Ur, dos caldeus. 
Até um exemplar da dracma de prata, provavelmente semelhante a 
que Judas recebeu por trair Jesus Cristo, foi mostrada.



No final da entrevista, Rodrigo Silva e Jô Soares falaram 

sobre evidências históricas da ressurreição de Jesus, 
apontada por alguns estudiosos como mito. “Com base na história, 
há muitos elementos que comprovam a ressurreição”, afirmou o teólogo 
e especialista em arqueologia. Silva explicou que historicamente a 
ressurreição era algo impopular, por isso os discípulos, em tese, 
não teriam muitas vantagens de inventar uma história como esta. 
Disse, também, que há muitos relatos fora da narrativa bíblica 
que atestam a ressurreição, inclusive citando o historiador judeu 
chamado Flávio Josefo, do primeiro século da era cristã.
 [Equipe ASN, Felipe Lemos]

Veja a entrevista:











ALAGOAS FAZ HISTÓRIA E NOMEIA SEUS PRIMEIROS LÍDERES



Maceió, AL ….[ASN] A primeira Assembleia de Instalação que elegeu os primeiros líderes para a Missão Alagoas (Misal) aconteceu na Igreja da Serraria em Maceió, capital do Estado.

Estiveram presentes os líderes da Missão Alagoas (Misal), Missão Sergipe (MSE), União Nordeste Brasileira (Uneb) e membros dos distritos alagoanos.

O programa iniciou num clima espiritual com as boas vindas do presidente da Uneb Pr. Geovani Queiroz que orientou os delegados a se apaixonarem pela comunhão com Deus e pelo crescimento da Igreja . “O segredo do sucesso se dá pela busca perseverante da Palavra de Deus e do Espírito de Profecia. Os dois não podem andar separados", afirmou.

O evento contou com muito louvor e orações intercessórias em prol da eleição dos novos líderes. O secretário da Missão Sergipe, pastor Jorge Souza,  apresentou dados do superávit das Instituições Adventistas, além de fazer a leitura das igrejas advertistes abertas em Alagoas, enfatizando o crescimento significativo no Estado.

Aberta a Sessão

O presidente da Misal, pastor Otimar Gonçalves, responsável por declarar aberta a Sessão, recebeu com entusiasmo a escolha dos novos líderes.  “Estou muito feliz e confiante que Deus, verdadeiramente, pôs a mão nestas escolhas. Próxima etapa agora é trabalhar.” Afirmou.

Enquanto os delegados se reuniam numa sala reservada da igreja para à votação, paralelamente, líderes das Missões e união apresentavam vídeos, planilhas para os demais participantes da Assembleia.

Gestor das finanças da MSE, o tesoureiro Laércio Costa, apresentou uma planilha explicativa de gastos e investimentos da Missão Sergipe Alagoas (MSA), fazendo um balanço entre os dois campos: Sergipe e Alagoas.

O secretário da Uneb, Pr. Ivanaudo Barbosa, exibiu um vídeo com direitos e deveres dos líderes, orientando também, os delegados que estavam votando pela primeira vez a formarem agentes multiplicadores em todos os departamentos advertistes.

Otimista, o líder de Publicações da Uneb, pastor Paulo Pinheiro, declarou a importância da colportagem na vida das pessoas, proporcionando aos expectadores um quadro demonstrativo do antes e depois da entrada dos livros cristãos no ambiente familiar.

Presente também no evento, o líder de Educação para o Nordeste, pastor Enildo Nascimento, voltou às atenções dos participantes para a responsabilidade da boa educação nos lares e o papel fundamental que os pais têm na educação e crescimento de seus filhos.

Resultado

Logo em seguida, os delegados voltaram à Plenária e foram anunciados os nomes dos novos líderes representantes dos departamentos da Misal. São eles: Pr. Raimundo Nonato (Adra, Evangelismo, Ministério Pessoal, Escola Sabatina e Missão Global); Soraia Braun Gonçalves (Afam, Ministério da Mulher e Ministério da Criança); Pr. Edmilson Bispo (Líder de Jovens, Aventureiros, Desbravadores, Comunicação e Música); Antônio Barreto (Educação). Os três líderes - presidente, tesoureiro e secretário da Misal, nomeados em outra oportunidade, foram determinados a assumirem também outras áreas. O presidente Pr. Otimar Gonçalves acrescentou em sua liderança o departamento de Espírito de Profecia e Publicações, o tesoureiro Fausto Santos com Expansão Patrimonial e o secretário Orlando Lacerda ficou responsável pelo Departamento Ministerial (Demi).

Ao final da apresentação dos novos líderes da Misal, o plenário reconheceu o trabalho prestado pelos pastores e diretores de departamento. “Agradecemos a todos pelo apoio e dedicação deste dia tão importante e imprescindível para a nova sede em Alagoas.” Agradeceu Queiroz.

A primeira Assembleia de Instalação fechou as portas com a democracia respeitada, líderes escolhidos para distintas funções, e o início de uma nova história para o crescimento espiritual no estado de Alagoas. (Equipe ASN, Vanessa Lima)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O CRISTÃO E A POLÍTICA



Desde o nascimento da igreja cristã, estas questões têm sido debatidas vez após vez: Qual é o papel do cristão na política? Pode um membro ou a própria igreja envolver-se em política? Como deviam se relacionar com o governo e com as autoridades políticas?

Alguns adventistas do sétimo dia acham que a igreja não desempenha nenhum papel político, e o cristão individual, no máximo, uma parte minúscula. Esta opinião funda-se sobre o conceito de que o reino de Cristo não é deste mundo. Outros adventistas insistem que tanto indivíduos como a igreja têm responsabilidades sociopolíticas incontestáveis para melhorar as condições de vida. Alguns cristãos vão mais longe e pretendem que a tarefa principal do cristianismo é trabalhar para criar uma ordem política cristã que resulte no estabelecimento do reino de Deus na Terra. Entre uma e outra, há todo uma gama de opiniões.

O exemplo de Cristo

Jesus raramente mencionou o tipo de sociedade política à qual Seus discípulos deviam aspirar. Ele não pretendeu ser um reformador sociopolítico. Ele não enunciou nenhuma plataforma política. As tentações no deserto tinham uma dimensão claramente política e Ele as resistiu. Embora Ele tivesse mais de uma oportunidade para apoderar-Se do governo da sociedade por uma espécie de golpe de estado (ex.: o alimentar a multidão e a entrada triunfal em Jerusalém), Ele não escolheu esta opção.

Ao mesmo tempo, os ensinos de Jesus não podiam deixar de ter uma influência sociopolítica ao serem observados pela comunidade cristã. Ele ofereceu boas novas aos pobres, liberdade para os oprimidos e vida abundante (João 10:10). Portanto, os adventistas, seguindo o exemplo de cristãos através dos séculos, precisam reconhecer sua responsabilidade social. Os pioneiros adventistas pregavam não só o evangelho de salvação individual, mas também se preocupavam com alcoólatras, escravos, mulheres oprimidas e as necessidades educacionais de crianças e jovens.

A base bíblica de responsabilidade sociopolítica

A responsabilidae sociopolítica cristã baseia-se sobre dois fundamentos bíblicos. Primeiro, a doutrina da Criação. Deus criou ex nihilo o Universo e nos designou como os mordomos deste mundo. Mordomia implica tanto em responsabilidade como prestação de contas pelo domínio sobre o qual tem jurisdição.

Segundo, a doutrina do homem. Os seres humanos são criados à imagem de Deus. Os parâmetros da responsabilidade humana de servir jazem dentro deste conceito bíblico da natureza humana. A visão cristã é que homens e mulheres não são uma espuma sobre o mar da vida, mas pessoas com um papel responsável a desempenhar e com um futuro promissor. O potencial humano confere propósito, direção e otimismo a cristãos a serviço de outros num contexto comunitário.

Assim, o cristianismo não é uma religião de individualismo isolado ou de introversão; é uma religião de comunidade. Os dons e as virtudes cristãs têm implicações sociais. Devoção a Jesus Cristo significa devoção a todos os filhos de Deus, e devoção gera responsabilidade pelo bem-estar de outros.

O dilema de uma dupla cidadania

Cristãos sinceros confrontam o dilema de uma dupla cidadania. De um lado eles pertencem ao reino de Deus, e do outro, a sua terra natal. São parte da “nova humanidade” e vivem no meio da “velha humanidade”. Há aqui um conflito inerente? Precisa a juventude adventista do sétimo dia escolher uma cidadania e renunciar à outra? Não há dúvida de que ocasionalmente possa haver conflito quando as exigências ou deveres de uma cidadania colidem com os da outra. Em tais casos as Escrituras são claras: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29).

Não obstante, o reino de Deus não se encontra isolado deste mundo; “está entre vós” (Lucas 17:21). Em outras palavras, o reino de Deus é uma esfera, um comprometimento, uma atitude e um modo de vida e pensar que permeia a toda nossa existência e que dá um sentido especial à cidadania nacional. É a soberania de Deus invadindo o viver humano.

Nada fazer é ação política

A organização política da sociedade é a provisão divina para a humanidade caída. Deus não pede que as pessoas corretas se distanciem do processo político de governo e deixem o controle sociopolítico e econômico nas mãos dos “malfeitores”. Os cristãos devem ser o sal e a luz do mundo social, e portanto não podem simplesmente se afastar do processo político. Com efeito, tal abdicação é em si mesma uma ação política que abre o caminho para o controle político para aqueles que não apóiam valores cristãos. “Nada fazer” é uma receita certa para o pecado ficar senhor da situação. Os adventistas têm tanto o direito como o dever de usar a cidadania terrestre para manter a igreja livre para cumprir seu mandato divino e ajudar como indivíduos a atender às necessidades sociais gritantes.

Deveres de cidadania política

Os adventistas do sétimo dia confrontam pelo menos quatro deveres da cidadania política.

Primeiro, o dever de orar a favor dos que exercem autoridade governamental. Precisamos orar por auxílio divino para resolver alguns dos problemas sociopolíticos que afetam negativamente a vida humana e a proclamação do evangelho. As orações e súplicas dos fiéis ascendem muito mais alto do que as declarações e ações políticas que enchem montanhas de papel reciclável.

Segundo, o dever de votar e de fazer petições às autoridades no poder. Os adventistas devem votar mesmo quando a escolha seja entre o menor de dois males. Em conexão com isto, a obtenção do título de eleitor é o primeiro passo.

Terceiro, o dever de educar-se e informar-se. Os adventistas, não menos que outros cidadãos, devem instruir-se continuamente quanto a questões que afetam a vida presente e futura. Ignorância política não aumenta a felicidade espiritual.

Quarto, o dever de candidatar-se e ocupar cargos públicos. Os adventistas têm este direito constitucional. Há também designação para cargos governamentais que não envolvem campanha eleitoral. Ellen White afirma que não há nada errado na aspiração de “sentar em conselhos deliberativos e legislativos e ajudar votar leis para a nação”.1 Contudo, ela aconselha que ministros e professores empregados pela igreja se abstenham de atividades políticas partidárias.2 A razão que ela dá é bem clara: política partidária pode criar divisões. Um pastor poderia facilmente dividir uma congregação e enfraquecer grandemente sua habilidade de servir como pastor de todo o rebanho, tomando partido.

Perigo de envolvimento político

Tendo salientado a responsabilidade e privilégios da cidadania, torna-se necessário advertir contra o perigo de envolvimento político tanto do indivíduo como da igreja. Os adventistas, como outros cristãos, podem ser enganados por César. Sucesso na política envolve compromisso, exaltação própria, ocultar fraquezas e desempenhar papéis partidários. Às vezes torna-se necessário aceitar expedientes que não se enquadram com as melhores convicções morais. A política é um patrão exigente e absorvente. Os políticos cristãos caminham sobre uma corda bamba. Devem evitar contaminar-se com a qualidade irônica e absorvente do ativismo político que pode rebaixar seus esforços a um nível em que Deus parece não envolver-Se nos assuntos humanos.

Há um perigo crescente de as igrejas se envolverem em política. Isto leva à interpretação da fé e do evangelho cristãos em termos de valores políticos. O interesse em muitas igrejas parece ter-se transferido da moralidade individual à moralidade social. O resultado é que, em certos segmentos da sociedade eclesiástica, idéias seculares começam a moldar os valores cristãos de modo a haver pouca diferença entre o secular e o sagrado. É triste constatar que amiúde as atitudes de cristãos são as mesmas da sociedade em geral.

Envolvimento circunspecto da igreja

O que acabamos de dizer aponta à necessidade de um envolvimento político judicioso. Uma igreja mundial, com milhares de instituições, dez milhões de membros adultos e muitos interessados, não pode evitar contato com o Estado e o envolvimento político. Não somente pessoas, mas também organizações eclesiásticas, têm direitos e responsabilidades. A igreja tem o direito de intervir no caso de legislação ou ações regulatórias, tanto positivas como negativas, que afetem a missão da igreja.

A igreja não deve jamais (e jamais é um termo forte) identificar-se com um partido político particular ou com um sistema político. Uma identificação tal pode de início trazer um privilégio temporário rápido, mas inevitavelmente arrastará a igreja pela rampa descendente que leva a uma paralisia de sua ação evangelística e profética. Em suma, “a igreja deve ser a igreja”, e não uma agência social. Sua iniciativa mais prometedora para mudar a sociedade é transformar indivíduos, gente. Os adventistas do sétimo dia cumprem, numa estrada de mão dupla a missão de Deus no mundo: evangelismo e serviço.

Bert B. Beach (Ph.D., Universidade de Paris, Sorbonne) é o diretor de relações entre igrejas da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Seu endereço: 12501 Old Columbia Pike, Silver Spring, MD 20904-6600, E.U.A.

Notas e referências

1.   Ellen G. White, Mensagens aos Jovens, pág. 36.
2.   Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, págs. 391-395.

domingo, 6 de junho de 2010

A TRINDADE: POR QUE É IMPORTANTE?


Não me lembro de ter ouvido um sermão sobre a Trindade em minha infância ou adolescência. Na verdade, eu nunca tive nenhuma discussão prolongada sobre essa doutrina, senão em meu último ano da faculdade de teologia. Num seminário sobre a Doutrina de Deus, o professor nos levou a uma discussão detalhada da história dessa doutrina e suas bases bíblicas. Mas, devo confessar que tudo me pareceu um pouco enigmático e impraticável. Minha trajetória teológica, porém, iria pouco a pouco se transformar numa preocupação que agora se tornou paixão. Minha indiferença transformou-se na convicção definida de que a doutrina da Trindade é a declaração teológica central do pensamento e prática cristãos. Na verdade, longe de ser um mistério irrelevante, ela expressa a essência daquilo que os cristãos desejam confessar acerca da natureza de Deus e Seu propósito para a felicidade humana.

Pensar em teologia envolve dois passos básicos: Primeiro, o “quê” da doutrina. A fase “quê” envolve duas facetas importantes: (1) afirmar claramente a doutrina; e (2) avaliar a base bíblica para o seu ensino. Segundo, as reflexões sobre o “e então?” Essa fase procura clarificar pontos tais como as implicações teológicas e práticas da doutrina – especialmente sua coerência com outros ensinos cristãos, e a questão da salvação pessoal ou reconciliação com Deus.

O "QUÊ" DA TRINDADE

A crença fundamental adventista do sétimo dia de número dois define a doutrina da seguinte forma: “Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas”.1 No que tange a essa declaração, tanto a igreja cristã primitiva quanto o movimento adventista do sétimo dia tiveram que lidar com vários desafios. A questão de Deus o Pai nunca foi controversa, em virtude da longa tradição do ensino cristão ortodoxo. Enquanto a vasta maioria dos cristãos afirma a eterna divindade do Pai, sempre existiram controvérsias em torno das questões acerca da completa e eterna divindade do Filho, a personalidade do Espírito Santo e a profunda unidade do Trio. O espaço não nos permite uma discussão pormenorizada da evidência bíblica em prol da unidade triúna de Deus, mas se pudermos estabelecer a plena divindade do Filho e do Espírito, parece lógico que haverá uma profunda unidade com o Pai. Assim, os cristãos têm confessado que há um Deus (monoteísmo) que Se manifesta em amor como uma unidade tri-pessoal (não três Deuses, ou triteísmo). 

A PLENA DIVINDADE DO FILHO

Basicamente há três tipos fundamentais de evidências bíblicas que mostram que Jesus era inerentemente divino, tendo a mesma natureza e substância do Pai.2

1. Jesus é expressamente chamado de Deus no Novo Testamento. Hebreus 1 compara Jesus com os anjos. Nos versos 7 e 8, o autor diz que enquanto Deus fez os anjos como “ventos, e a Seus ministros como labaredas de fogo” (verso 7, ARA), acerca do Filho diz: “O Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre” (vs. 8, ARA). O versículo 8 é uma das sete vezes em que a palavra grega theos (“Deus”) é diretamente usada com relação a Jesus no Novo Testamento (as outras seis são João 1:1, 18; 20:28; Romanos 9:5; Tito 2:13; e II Pedro 1:1).

Sejamos bem claros quanto ao que os escritores do Novo Testamento, especialmente o autor de Hebreus, estão dizendo nesses versos. Eles estão se referindo a Jesus como “Deus”, e em Hebreus, o escritor está interpretando o Antigo Testamento mediante a aplicação do Salmo 45:6 a Jesus que originalmente se referia a Deus, o Pai.

2. Jesus aplica a Si mesmo títulos e atribuições divinos. O exemplo mais singular é encontrado em João 8:58: “Respondeu Jesus: Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!” (NVI). Muito simples: o que Jesus estava dizendo é que Ele não era outro senão o Deus do Êxodo, e fez isso aplicando a passagem de Êxodo 3:14 a Si mesmo: “Disse Deus a Moisés: Eu Sou o que Sou” (NVI).

Além disso, esse “Deus” que fala em Êxodo 3:14 prossegue e esclarece Sua identidade: “O Senhor, o Deus dos seus antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó” (verso 15, NVI). Em outras palavras, Jesus não apenas reivindicou ser o Deus do Êxodo, mas também o “Senhor” (Yahweh) dos patriarcas. Não nos surpreende que os fariseus “apanharam pedras para apedrejá-Lo” (João 8:59, NVI) – a punição prevista no Antigo Testamento para blasfêmia (veja João 5:17, onde Jesus diz a mesma coisa).

3. A aplicação dos nomes divinos a Jesus pelos escritores do Novo Testamento. Em Hebreus 1:10-12, a Inspiração atribui o supremo título do Deus do Antigo Testamento (JHWH ou Yahweh) a Jesus. O autor de Hebreus faz isso ao aplicar o Salmo 102:25-27 a Cristo. Isso não é incomum entre os escritores do Novo Testamento, mas o que chama a atenção nessa aplicação é que esse Salmo originalmente se refere ao “Senhor” (Yahweh) do Antigo Testamento. Assim, o autor do Novo Testamento se sente muito à vontade ao aplicar a Jesus passagens que originalmente se referiam ao auto-existente Deus de Israel. A clara implicação é que Jesus é o “Senhor” Jehovah (JHWH) do Antigo Testamento. Apocalipse 1:17 descreve o uso semelhante de um título do Antigo Testamento – “o Primeiro e o Último.”

A PLENA DIVINDADE DO ESPÍRITO SANTO

As Escrituras fornecem inúmeras linhas de evidência que testificam da natureza divina do Espírito. A mais significativa vem do livro de Atos, na trágica história de Ananias e Safira. Esse casal, às escondidas, voltou atrás nos votos sagrados que havia feito a Deus. Quando eles vieram publicamente depositar a oferta parcial aos pés dos apóstolos, eles caíram mortos repentinamente. Pedro explicou de forma bem objetiva o que haviam feito: Vocês mentiram ao Espírito Santo. A isso se seguiu a impressionante revelação de que eles não haviam mentido aos homens, “mas a Deus” (Atos 5:3-4). A implicação óbvia é que o Espírito Santo é um ser divino.

A próxima linha de evidência é encontrada nas muitas passagens que descrevem a obra do Espírito em termos daquilo que é exclusivo de Deus. O mais claro exemplo está em I Coríntios 2:9-11. Paulo declara que seus leitores podem ter algum conhecimento daquilo “que Deus preparou para aqueles que O amam” (vs. 9, NVI). E como tal conhecimento é possível? “Deus o revelou a nós por meio do Espírito” (vs. 10). E como é que o Espírito está a par desse conhecimento? “O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as coisas mais profundas de Deus. Pois quem conhece os pensamento do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus” (vss. 10-11, NVI).

O que essa passagem sugere é o seguinte: Se alguém deseja saber “o que é verdadeiramente humano”, deve conseguir tal informação de um ser humano. Aquilo, porém, que é verdade no nível humano, muito mais o é no divino: “Da mesma forma, ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus” (vs. 10). Apenas um Ser divino pode verdadeiramente conhecer o que se passa na mente e no coração de outro Ser divino.

O “E ENTÃO?” DA TRINDADE

Qual é o significado do “e então?” da plena divindade do Filho e do Espírito? Antes de abordar essa importante questão, precisamos lidar com um ponto que incomoda a muitos: a aparente falta de lógica na confissão de que três são iguais a um. Esse ponto incomoda especialmente a mente racionalista de muitos estudantes universitários no Ocidente e nossos amigos muçulmanos fortemente monoteístas.

A objeção lógica. Millard Erickson sugere que a razão humana não pode tolerar a estranha matemática trinitariana na qual “três = um.” Se você for a um supermercado, pegar três pães e tentar persuadir o caixa de que eles são na verdade um e que você não tem que pagar senão apenas o valor de um, o caixa poderá ser tentado a chamar imediatamente os seguranças.3

A primeira resposta à lógica do pensamento trinitariano é admitir que estamos lidando com o mais profundo dos mistérios. Sabemos que em relacionamentos de amor parece desenvolver-se uma profunda unidade social e emocional. Diríamos então que os relacionamentos de amor são totalmente ilógicos e incoerentes? Penso que não. E essa parece ser a melhor maneira de explicar o mistério da Trindade e Sua unidade plural.
Outra vez Erickson sabiamente indica o caminho para uma resposta aceitável: “Nós, portanto, sugerimos pensar na Trindade como uma sociedade de pessoas que, contudo, são um só Ser. Conquanto essa sociedade de pessoas tenha dimensões que não encontramos entre seres humanos quanto ao seu inter-relacionamento, existem alguns paralelos que ajudam a esclarecer o assunto. Amor é o relacionamento aglutinante dentro da Divindade, que une cada uma das pessoas às outras.”4

Erickson, então, naturalmente apela para I João 4:8, 16: “Deus é amor.” Compreendemos realmente as profundezas dessa declaração inspirada que é tão desconcertante em sua simplicidade? Gostaria de sugerir que essas três palavras têm uma profunda contribuição a fazer à nossa compreensão de um Deus que preexistiu eternamente em estado de “unidade” trinitariana. “A declaração ‘Deus é amor’ não é uma definição de Deus, nem sequer a declaração de um atributo entre outros. Ela é uma caracterização bem básica de Deus.”5
 
Para os cristãos trinitarianos, a pergunta fundamental acerca de Deus está direta e completamente relacionada com a questão do Seu amor. E se Deus não for “amor” no âmago de Seu ser, então qualquer questão acerca de Sua natureza imediatamente se torna irrelevante do ponto de vista bíblico. Nós, contudo, pensamos que o amor é a caracterização mais fundamental de Deus. Se Deus é verdadeiramente, na Sua essência, o Deus de “amor” (João 3:16; I João 4:8), então temos que considerar algumas implicações.

Pode Alguém que existe desde a eternidade e que nos fez à Sua imagem de amor, ser realmente chamado amor se Ele existir tão-somente como um ser solitário ou unitário? Não é o amor, especialmente o amor divino, possível apenas se Aquele que fez nosso Universo for um ser plural que estava exercitando amor dentro de Sua pluralidade divina (trinitária) desde toda a eternidade passada? Não é o amor verdadeiro e altruísta possível apenas se ele proceder de um tipo de Deus que, por natureza, sempre será um Deus de amor como uma Trindade social?

Sinto-me fortemente inclinado a afirmar que Deus é uma Trindade de amor e que Seu amor encontrou a revelação mais profunda na obra criadora, e na encarnação, vida, morte e ressurreição do plenamente divino Filho de Deus. A unidade trinitária de Deus, por fim, não é ilógica. Na verdade, ela é a fonte da única lógica que faz sentido absoluto – um amor que se auto-sacrifica, que é mutuamente submisso e um eterno canal da graça de poder criador e redentor.

Tal amor infinito, porém, deve ser comunicado de forma prática a seres humanos finitos e pecadores. E é aqui que o “e então?” da plena divindade do Filho e do Espírito exerce um papel dramático na criação e na redenção.

IMPLICAÇÕES DA DIVINDADE DE CRISTO

Primeiro, antes que a Trindade pudesse fazer com que a vida e a morte salvíficas de Cristo de fato gerassem a salvação de pecadores, havia a necessidade urgente de revelar aos seres humanos alienados pelo pecado como Deus realmente é. E o único Ser que poderia oferecer tal surpreendente revelação da natureza divina era Deus mesmo. E essa foi a missão primária de Jesus, o divino Filho de Deus.

Agora, em se tratando realmente da provisão para a salvação, especialmente em Sua morte expiatória, apenas Alguém que é igual a Deus, por meio de Espírito Santo, seria poderoso o bastante para recriar seres humanos deformados pelo pecado à semelhança do caráter divino. Em outras palavras, apenas o divino Filho poderia gerar a conversão ou o novo nascimento, e ocasionar a mudança de caráter que faz com que o homem reflita a semelhança divina. Resumindo: apenas o Filho, que é o amor encarnado, poderia manifestar e produzir tal amor transformador.

A PLENA DIVINDADE DO ESPÍRITO

Como acontece com a divindade do Filho, as implicações teológicas da divindade do Espírito derivam dos pontos relacionados à intenção de Deus de redimir a humanidade pecadora.

Com toda a certeza, se Aquele que é igual ao Pai em natureza e caráter podia oferecer um sacrifício efetivo pelo pecado, então, da mesma forma, somente Alguém (o Espírito) que é plenamente divino podia comunicar de fato a eficácia desse sacrifício a seres humanos pecadores. Outra vez, é necessário um Espírito completamente divino para revelar ao pecador a obra do Filho completamente divino (I Coríntios 2:7-12).

Somente o Espírito Santo podia trazer à humanidade decaída o convertedor e convencedor poder do grande amor de Deus, poder que gera contrição e conversão. Somente Alguém que tem estado em eterna e estreita ligação com o coração de Deus e do Filho, o coração de um amor que se auto-sacrifica, pode comunicar plenamente tal amor à humanidade perdida.

Somente Alguém que atuou com o Filho na criação poderia estar equipado para operar a recriação nas almas arruinadas pelas forças destrutivas de Satanás e do pecado (Rom 8:10-11).

Somente Alguém que pôde estar em plena sintonia com o coração do ministério encarnado de Jesus, e ainda assim, ao mesmo tempo, ser capaz de estar em todos os lugares (onipresença de Deus), podia representar de maneira hábil a presença pessoal e redentora de Cristo perante todo o mundo. O único Ser que podia fazer tal coisa é o Espírito Santo, um Ser pessoal sempre e todo-presente.

UM APELO

Gostaria de desafiar cada leitor a ponderar com oração e cuidado sobre a Trindade e Suas profundas implicações para a vida e o destino que o Deus da Bíblia oferece à humanidade. Essa doutrina satisfaz às necessidades do moderno anseio por uma reflexão racional sobre o problema divino/humano, e ao mesmo tempo oferece um mistério verdadeiramente cativante para os gostos mais relacionais dos pós-modernistas. Além disso, o pensamento e a vida trinitarianos oferecem uma visão de relacionamentos que vivem em amor, os quais refletem a realidade mais profunda oferecida por Aquele que fez o mundo em amor e está buscando redimi-lo do pecado (que é contrário ao amor – a mais profunda antítese do amor divino).

Além disso, não consigo pensar num melhor ponto da discussão quando se busca abordar as preocupações monoteísticas de nossos amigos muçulmanos. Se o amor de Jesus, o lado humano do amor da Trindade, não convencer, nada será capaz de fazê-lo. Os recursos do amor que flui do Pai, encarna-se em Cristo e é comunicado pela Pessoa plenamente divina do Espírito Santo proporcionam a mais rica visão teológica que se pode imaginar para o destino de um mundo perdido. 

Woodrow W. Whidden (Ph.D. pela Universidade Drew) é professor de Religião na Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan, E.U.A. Email: whiddenw@andrews.edu

Referências

1. Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia, ed. revisada na Assembléia da Associação Geral de 2000 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 9.
2. Para uma discussão detalhada da evidência, veja meus capítulos na Primeira Seção do livro A Trindade: Como entender os mistérios da Pessoa de Deus na Bíblia e na história do cristianismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), 19-135.
3. Millard Erickson, Making Sense of the Trinity: Three Crucial Questions (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 2000), 43-44.
4. Idem., 58.
5. Ibidem.