quarta-feira, 29 de junho de 2011

As quatro faces de Jesus
Por que existem quatro evangelhos no Novo Testamento? Por certo um seria suficiente. Essa foi, pelo menos, a opinião de Taciano, pai da igreja no segundo século, o qual compôs o Diatessaron, uma tradução dos evangelhos em língua siríaca. Em vez de traduzir os quatro evangelhos, ele compilou uma “harmonia” tomando a versão de cada história importante e inserindo-a numa harmonização dos evangelhos. João Calvino escreveu um comentário sobre cada livro da Bíblia, exceto os evangelhos, para os quais preparou também uma harmonia; então escreveu um comentário a respeito.
Contudo, Taciano e Calvino são exceções. Os quatro evangelhos têm figurado no Novo Testamento desde a primeira vez que alguém perguntou que escritos deveriam ser nele incluídos. As razões por que os primeiros cristãos decidiram conservar os quatro evangelhos no Novo Testamento não são conhecidas. Mas por que o fizeram, temos agora quatro testemunhos ligeiramente diferentes sobre Jesus. Assim como diversas testemunhas são convocadas num tribunal para dar sua perspectiva particular dos fatos, de modo que a verdade possa emergir com maior clareza, assim também os quatro evangelistas fornecem quatro perspectivas de Jesus. Através deles vemos, por assim dizer, Jesus em quatro dimensões. A certa altura eu tinha intitulado meu livro sobre os quatro evangelhos: “Jesus In Four Dimensions”. Os editores decidiram que The Four Faces of Jesus seria um título melhor. Realmente ele expressa a mesma ideia de que cada um dos escritores evangelistas tem um testemunho pessoal de Jesus e de Sua mensagem. O que eles acham ser o mais importante?
Embora a maior parte deste artigo seja dedicada ao exame separado de cada um dos quatro evangelhos para descobrir o que distingue um do outro, não devemos nos esquecer que há uma harmonia básica entre as narrativas de Jesus neles encontradas. Por exemplo, todos concordam acerca de muitos detalhes de Seu ministério. Mateus e Lucas registram que Ele nasceu em Belém e os quatro concordam que Ele cresceu em Nazaré, e que o Seu ministério se concentrava nas pequenas cidades e vilas ao longo do litoral norte do mar da Galiléia. Mais significativamente, os quatro evangelhos partilham a convicção de que a coisa mais importante a se saber sobre Jesus, é a série de acontecimentos relacionados à Sua crucifixão, morte e ressurreição. Todos concordam que o significado da cruz tem a ver com quem Jesus é, e que aquilo que aconteceu com Ele foi o resultado da vontade de Deus e não uma fatalidade cega. Todos os evangelhos destacam o elo que liga a cruz e a Páscoa e que Jesus foi crucificado como o rei dos judeus; fato irônico, porque a cruz realmente inaugurou o reino de Deus. Além disso, todos eles enfatizam que Jesus ressuscitou com um corpo real e que Sua morte e ressurreição proveu o impulso para a atividade missionária dos primeiros (e últimos) cristãos. Esses conceitos e outros mais são partilhados pelos quatro evangelhos. Não obstante, cada um possui uma visão distinta de Jesus.
O Evangelho de Mateus
João 21:25 expressa a frustração que todos os quatro evangelistas experimentaram: “E ainda muitas outras coisas há que Jesus fez; as quais, se fossem escritas uma por uma, creio que nem ainda no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem”. Todos os evangelistas sabiam muito mais sobre Jesus do que poderiam incluir em seus evangelhos. Assim eles precisaram ser seletivos com seu material. Consequentemente, é interessante ver o que cada escritor do evangelho inclui que não esteja nos outros evangelhos. Em Mateus e Lucas, particularmente, essa metodologia nos dá uma boa ideia quanto a seus interesses e ênfases especiais. Por exemplo, o interesse de Mateus na comunidade de crentes é revelado pelo fato de que diversos pronunciamentos de Jesus, que só aparecem nesse evangelho, tratam da comunidade. Em Mateus 18:15-18, um fato peculiar a esse livro, Jesus esboça o que deveria ser feito se houvesse uma disputa entre dois membros da comunidade. A necessidade de perdão é enfatizada pela parábola do servo que não quis perdoar (18:21-35), a qual imediatamente segue a declaração sobre a ordem dentro da comunidade. Essa parábola é encontrada apenas no evangelho de Mateus. Ademais, Mateus 23:1-3, 5, 8-10, 15, 16-21, 27, 28, 32 e 33, menções peculiares a esse evangelho, ilustram como a comunidade cristã deveria conduzir-se de modo diferente da dos fariseus.
Mateus demonstra grande interesse nas questões ligadas ao relacionamento entre judeus e gentios, presumivelmente porque era uma questão que preocupava sua comunidade enquanto ele compunha seu evangelho. É Mateus que traça a genealogia de Jesus a partir de Abraão (Mateus 1:1; ver também Lucas 3:23-38, que traça a genealogia de Jesus a partir de Adão). É Mateus que reúne os ensinos de Jesus sobre a lei num todo conhecido como o Sermão da Montanha (Mateus 5:17- 48). Igualmente é Mateus que mostra que a missão de Jesus foi inicialmente dirigida exclusivamente aos judeus (Mateus 10:5 e 6), embora fique claro no capítulo 28, versos 19 e 20, que o ministério dos discípulos se dirigia a todo o mundo na proclamação às nações das boas-novas de salvação.
Mateus também se interessa em como os cristãos deveriam reagir ao fato de Jesus voltar logo. Em Mateus 24 e 25 ele acrescenta às declarações de Jesus sobre os sinais do fim (que também se encontram em Marcos 13 e Lucas 21), quatro parábolas que tratam sobre como os cristãos deveriam se conduzir desde agora até a Segunda Vinda — a parábola dos dois servos (24:45-51), a parábola das 10 virgens (25:1-13), a parábola dos talentos (25:14-30) e a parábola do julgamento das nações (25:31-46). Três dessas parábolas se encontram somente em Mateus.
Ele também destaca o dever de os cristãos agirem corretamente. Eles até guardarão melhor a lei do que os fariseus (5:20). Ele ilustra como isso poderia ser feito. Jesus diz que Seus discípulos não só não deveriam praticar homicídio, mas também não deveriam se encolerizar (5:21-26). Não deveriam cometer adultério como também não deveriam abrigar nenhum desejo impuro (5:27-30). Com efeito, eles amarão seus inimigos e serão perfeitos assim como Deus é perfeito (5:43-48). Além dessa forte ênfase na necessidade de os cristãos viverem vidas corretas, a verdade de que somos salvos pela fé, à parte do que fazemos, encontra- se em diversos lugares no material exclusivo de Mateus. Isso talvez seja mais claro na parábola dos obreiros da vinha (20:1-16). No reino de Deus, como na parábola, a recompensa dada no final do dia não se relaciona com a quantidade de trabalho realizado, mas com a bondade do Senhor.
O Evangelho de Marcos
Somente 30 dos 609 versos do evangelho de Marcos são próprios dele. Assim, em contraste com Mateus, Lucas e João, o caráter de Marcos não é revelado por seu material peculiar, mas por uma comparação mais subjetiva. Marcos, o mais sucinto dos evangelhos, registra menos acontecimentos do que os outros e menos ensinos de Jesus. Porém, os eventos nele inscritos são apresentados mais vividamente do que os outros evangelhos, com o uso de mais palavras para incluir pormenores que faltam aos outros. Há também mais ação em Marcos e é por isso que frequentemente se sugere ser ele o melhor e mais recomendável evangelho a alguém que esteja planejando ler os evangelhos, do começo ao fim, pela primeira vez. Entre outras coisas, Marcos enfatiza realmente o lado humano de Jesus, juntamente com o fato de ser Ele o Filho Unigênito de Deus. Ele retrata a Jesus como Mestre. Acima de tudo, salienta o fato de que Jesus não pode ser compreendido à parte de Seu sofrimento, morte e ressurreição, e que Ele há de voltar logo. Todo leitor de seu evangelho sente o que os primeiros discípulos experimentaram — um chamado ao serviço.
O Evangelho de Lucas
No início do relato de Lucas, as histórias revelam muito sobre as diferenças existentes entre esse evangelho e o de Mateus. Quando Mateus trata da infância de Jesus, ele conta que reis e magos orientais estavam envolvidos. Os personagens que encontramos em Lucas, por outro lado, são os pobres e párias da sociedade — um pobre sacerdote interiorano e sua mulher, pastores, um profeta idoso no templo e, naturalmente, mulheres. A situação das mulheres em qualquer sociedade do primeiro século, incluindo o judaísmo, não seria invejado pela maioria das mulheres modernas. Mas, diferentemente de quase toda a literatura antiga, Lucas não só registra as declarações e feitos de mulheres (Lucas 1:39- 56 é dedicado aos feitos e palavras de Maria e Isabel), mas através do seu evangelho destaca diversas ocasiões em que Jesus manteve diálogo com mulheres (Lucas 7:36-50; 10:38-42; 13:10-19).
Lucas também preserva algumas das melhores parábolas. Sem ele não teríamos as parábolas do Bom Samaritano (10:25-37) e do Filho Pródigo (15:11-32). Ele também inclui três parábolas que tratam de oração, as quais não se encontram nos outros evangelhos (11:5-13; 18:1-8; 18:9-14). Lucas também é singular por deixar o leitor saber o que aconteceu depois da ressurreição. O livro de Atos é companheiro do evangelho. Sem Lucas não saberíamos como a mensagem do cristianismo avançou além das fronteiras do judaísmo. Devemos, igualmente, agradecer a Lucas por nos fazer saber da conversão de Paulo e os detalhes de suas atividades missionárias. Sem Lucas saberíamos realmente muito pouco sobre os primeiros dias da igreja cristã.
O Evangelho de João
Quando passamos para o evangelho de João, entramos num mundo bem diferente dos outros três evangelhos. Conquanto João seja como os outros evangelhos no que tange à ênfase sobre os acontecimentos envolvidos na traição, morte e ressurreição de Jesus, o restante do livro é constituído quase que inteiramente de material exclusivo. Depois de introduzir em seu primeiro capítulo muitos dos temas principais que voltarão a ser tratados nesse evangelho, o evangelista estrutura os capítulos dois a doze em torno de vários milagres importantes de Jesus (que ele chama de sinais), e conversas entre Jesus e Seus diferentes ouvintes. Seus discípulos, Nicodemos, a mulher junto do poço e a multidão, todos são interlocutores nesses diálogos. Há muitos temas recorrentes nessas palestras e ao o leitor se familiarizar com cada uma deles, terá uma compreensão mais plena de Jesus.
João é capaz de revelar a profundeza de alguns ensinos de Jesus. No entanto, ele usa linguagem e imagens muito simples. Uma dessas simples mas profundas imagens, é a “de cima versus de baixo”. Muitos grupos de ideias estão associados a essa orientação espacial. Jesus é associado com o reino dos céus e com Deus como Pai. Ele desceu do Céu, lugar de vida, luz, verdade e espírito, para a Terra, que é caracterizada por morte, trevas, mentira e carne. Essa é a razão fundamental por que aqueles que estão presos à Terra não podem compreender Jesus. Pensam somente em termos da carne (João 3:11, 12; 6:50-52). Muitos dos discursos de Jesus em João 2 a 12 estão ligados a esse conceito de cima/ baixo. Conceito simples, porém utilizado de modo profundo.
Outro conceito encontrado nesses discursos é a tendência do futuro penetrar o presente. O julgamento final e a vida eterna são coisas que mais apropriadamente pertencem ao futuro. Mas o julgamento já veio em Jesus. Nossa atitude para com Jesus é nosso julgamento. Se crermos em Jesus, passamos do juízo para a vida; se não crermos, já estamos condenados (3:16-18). Com efeito, se crermos em Jesus temos vida eterna agora.
Diversos temas emergem de João 13 a 17, a seção seguinte desse evangelho. Em contraste com o estilo de liderança adotada pelos gentios, o líder cristão é um líder-servo. Se você quiser ser um líder, então tem de ser aquele que mais serve. Diversas declarações de Jesus nessa seção enfatizam que Ele é o único caminho para o Pai. Ela também inclui a promessa do Espírito e mostra Jesus preparando os discípulos para Seu sofrimento e o deles. O amor será a marca distintiva dos discípulos de Jesus.
A narrativa joanina do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus tem diversos aspectos únicos. De modo particular, em João, a cruz é a hora da glorificação de Jesus. É o momento quando o Filho de Deus é exaltado. É a glorificação de Jesus como Rei.
Resumindo
Os quatro evangelhos preservam quatro perspectivas de Jesus. Fazemos encontrar face a face com um Jesus que não se acomoda facilmente aos compêndios de teólogos cristãos ou aos sermões pregados semanalmente. Esse é o Cristo que assumiu plenamente a natureza humana, mas que ainda era divino. Um Jesus que por Sua vida, morte e ressurreição mudou a história e tornou a salvação acessível a todos os que nEle crêem. Um Jesus que deve, em breve, retornar para destruir o mal e devolver o mundo a Deus. Um Jesus que vem até nós, por vezes numa hora inconveniente, e ordena: “Venha, siga-me”. Um Jesus que nos chama para uma vida de discipulado e serviço. Em poucas palavras, um Jesus que nos desafia com a questão mais profunda e mais importante que temos de enfrentar neste mundo: “Quanto a você... quem diz que Eu Sou?” (Marcos 8:29.)
Robert K. McIver (Ph.D. pela Andrews University) é professor de estudos bíblicos em Avondale College, Cooranbong, Austrália. Entre seus livros acha-se o The Four Faces of Jesus (Boise, Idaho: Pacific Publ. Assn., 2000), que forma a base deste artigo.
A migração de pássaros: 
outra evidência de desígnio divino

“Até a cegonha do céu conhece os seus tempos determinados; e a rola, a andorinha, e o grou observam o tempo de sua arribação.” – Jeremias 8:7

O outono está chegando ao fim. Os ventos do Ártico sopram levemente para o sul, anunciando que o inverno não está longe. Logo as terras boreais congelarão, cobertas de neve. Subitamente você ouve um ruído no céu. Olha para cima e vê um bando de pássaros voando para o sul, fugindo das temperaturas gélidas e procurando terras mais quentes. Revoadas e bandos de pássaros continuam sua viagem por milhares de quilômetros. Vem a primavera e o inverso ocorre; os pássaros voam rumo ao norte para se reproduzir e criar seus filhotes. A migração é anual e rítmica, revelando umas das grandes maravilhas do mundo natural.
Como se explicam tais migrações? Por que os pássaros migram afinal? Como sabem eles quando é tempo de começar a longa viagem? O que guia sua rota de vôo e direção? Como sabem eles seu destino, e como se preparam para a viagem?1
Essas e outras questões têm ocupado as pesquisas científicas durante anos. Algumas delas têm obtido respostas claras; outras ainda estão sendo estudadas. Para um cientista comprometido com a cosmovisão cristã, a migração de pássaros é outro exemplo revelador de um desígnio divino por trás de todas as maravilhas da Natureza.
Dispersão de pássaros migratórios
Para os pássaros a migração usualmente significa uma viagem anual de ida e volta. Geralmente ela ocorre nas grandes terras do hemisfério norte, que são periodicamente cobertas de neve e do gelo do inverno. Bandos de pássaros que habitam a Euroásia e a América do Norte cruzam o Equador para passar o inverno na África ou na América do Sul.
Por exemplo, uma andorinha do ártico portando etiqueta de identificação foi capturada noventa dias mais tarde na costa do sudeste da África, 14.481 km longe de sua habitação no norte. Outra andorinha voou mais de 16.090 km, desde a Groenlândia, para alcançar o sudeste da África. Ainda outra, previamente identificada com anel na costa ártica da Rússia, foi apanhada perto da Austrália, a uma impressionante distância de, pelo menos, 22.526 km.
O maçarico de cauda branca fez o mesmo percurso outonal desde a costa do Canadá até a extremidade mais distal da Antártica. Entre os pássaros terrestres, as tristes-pias percorrem 11.263 km, ou mais, entre os campos de trevo do Canadá e os relvados da Argentina. A ave migratória mais famosa da Europa é a cegonha branca. Às vezes essas aves se erguem a grande altura através das colunas termais, antes de planar sobre as águas em direção à África.
Alguns maçaricos têm tido sua velocidade medida em mais de 161 km por hora. E alguns pássaros migram por longas distâncias sobre a água, e voam à altura de 4.267 m. A maior altura registrada até o presente foi de 8.992 m, alcançada por gansos perto do noroeste da Índia.
Como os pássaros navegam durante a migração
Os biólogos propõem quatro teorias e sugerem que os pássaros usam uma, ou uma combinação, dessas hipóteses em sua navegação de longas distâncias.
Uso de marcos visuais terrestres. Essa tem sido uma teoria popular há muito tempo. Muitos pássaros parecem seguir pistas visuais tais como rios, linhas da costa e cadeias de montanhas, a fim de atingir seu correto destino. Contudo, essa ideia não explica como os pássaros evitam perder-se durante sua primeira migração.
Uso do Sol. Segundo essa teoria, os pássaros, assim como as pessoas, possuem um relógio interno que lhes permite conhecer o ciclo diário de luz e escuridão. Juntamente com esse relógio interno, os pássaros parecem usar as sombras do Sol para obter uma ideia de sua localização. Mediante o uso desses dois recursos, eles seriam capazes de utilizar o Sol como bússola.
Os pássaros que viajam durante o dia se orientariam pela posição do Sol. Mas em dias nublados, quando não podem absolutamente ver o Sol, como haveriam eles de voar corretamente em formação? Eles possuem um relógio interno pelo qual são governados. Talvez isso possa ser explicado como resultado da criação divina.
Uso das estrelas. Por causa que muitos pássaros migram durante a noite, essas migrações noturnas parecem tê-los ensinado o uso das estrelas como guia de navegação. Eles podem orientar-se em relação à Estrela Polar e diferentemente da bússola solar, essa “bússola astral” não depende do tempo. Pássaros jovens parecem usar esse tipo de movimento para distinguir o Norte do Sul. Tal teoria é apoiada num experimento feito com tentilhões anilados.2
Alguns pássaros são capazes de se utilizar das formações estelares ou da Lua para determinar em que direção precisam voar. A desvantagem de usar as estrelas para se orientar é que a Estrela Polar não pode ser vista no hemisfério sul. Surge outro problema nas noites nubladas quando as estrelas não podem ser vistas.
Uso do campo magnético da Terra. Os biólogos têm duas diferentes teorias sobre como os pássaros podem usar o campo magnético da Terra para se orientar. Uma é que essas aves são dotadas de certos pigmentos em seus olhos, que se tornam levemente magnéticos ao absorverem luz, alterando assim os sinais que os olhos enviam ao cérebro.3 A segunda e mais popular teoria provém do fato de que os cientistas descobriram minúsculos cristais de magnetita no nervo olfativo do cérebro de alguns pássaros.
Os biólogos ainda não sabem como os pássaros podem sentir a posição dos cristais de magnetita em suas cabeças, e há poucos dados experimentais
“Testes cuidadosos com pombos-correios e outros pássaros que exibem a habilidade de escolha de direção, mostram que eles são afetados pela mudança de campos magnéticos... Se forem soltos onde o campo magnético da Terra é anormalmente forte, sua habilidade de orientar-se é inteiramente interrompida...
“Próximo ao, ou essencialmente no crânio de cada pombo [os pesquisadores] localizaram uma pequena porção de tecido de 1 x 2 mm que apresentava pequeno magnetismo. Pesquisas feitas nesse tecido com um microscópio eletrônico revelaram a presença de mais de 10 milhões de cristais microscópicos, cada qual quatro vezes mais longo do que largo. Outros testes demonstraram que esses cristais eram de magnetita, um composto de ferro e oxigênio do qual são fabricadas as agulhas das bússolas.”4
Segunda, uma pesquisa sobre imigração feita desde o norte de Wisconsin até o Amazonas:
“Como os pássaros acham o seu caminho desde um pinheiro no norte de Wisconsin até o sul, em direção ao Amazonas, e novamente retornam, ainda não é bem compreendido pela ciência. Mas meio século de pesquisa está derramando alguma luz sobre essa proeza surpreendente.
“Os pássaros podem rastear o Sol, a Lua e as estrelas usando o seu movimento aparente como bússola. Os pássaros também se utilizam de outros sentidos. Eles podem detectar campos magnéticos fracos através dos cristais microscópicos de magnetita em suas cabeças. Eles seguem odores leves, como um salmão ao retornar do oceano para seu rio de nascença. Eles podem ver luz polarizada e usam a pressão barométrica. Juntamente com sua memória e o impulso genético para se encaminhar em certa direção, os pássaros valem-se de uma combinação desses sentidos para cruzar os continentes e os oceanos”.5
Recentemente foi descoberto que as borboletas monarca têm uma bússola magnética interna que lhes permite fazer sua viagem de inverno sem a guia da luz solar.6 Como se mencionou nos parágrafos acima, ficou provado que alguns peixes e borboletas também usam seus sentidos de detecção magnética. (Ver o quadro “Migração do Salmão”). 
   

Migração do salmão: Usando o sentido magnético?
Um dos mistérios da Natureza é como o salmão consegue navegar nos oceanos e voltar para se reproduzir nos mesmos rios dos quais vieram. É sabido que o cheiro ou o sabor de um rio determinado desempenha seu papel. O salmão pode orientar-se pelo cheiro de “seu” rio se estiver suficientemente próximo de sua embocadura, de modo que a água não se tenha diluído a ponto de tornar impossível a identificação.
Mas como pode o odor desempenhar sua parte quando os peixes migram milhares de quilômetros e atravessam correntes oceânicas que destróem todo possível traço que poderia levá-los de volta? De qualquer modo, sabe-se que o salmão não segue pistas tortuosas de volta para casa, a fim de satisfazer o instinto de reprodução, mas viaja diretamente para seu território reprodutivo quando atinge a maturidade sexual...
O que os orienta na direção certa? Provavelmente haja mais de um mecanismo que o peixe usa para achar seu caminho. Uma “marca” olfativa é feita sobre o jovem salmão em sua primeira saída para o mar, ao deixar ele seu rio nativo. Isso lhe permite identificá-lo ao se aproximar mais tarde, vindo do oceano. Mas ao chegar perto da corrente da embocadura, vindo do mar aberto, pelo menos uma outra marca precisa ser feita a fim de poder chegar à área geral. Foi demonstrado que alguns peixes percebem de modo notável o azimute solar e a sua altura, e que eles são mais sensíveis à hora do dia. Sob condições ideais, isso permitiria determinar o norte geográfico. Mas numa região onde céu encoberto predomina (como é o caso do Pacífico Norte e do Mar de Bering), e porque os peixes nadam à noite e movem-se em águas mais profundas durante o dia, as pistas celestes nem sempre estão disponíveis. Por conseguinte, outro meio de corrigir a navegação seja provavelmente usado. Suspeita-se fortemente que a capacidade de sentir o campo magnético da Terra possa prover o método adicional...
Extrapolando esses achados no processo de migração, a conjetura é que, depois que um filhote do salmão cresceu até o estágio de smolt (quando de sua primeira arribada ao mar) e entra nas águas salgadas, ocorrem mudanças químicas e hormoniais que deixam marcas sobre o sistema nervoso dos peixes, uma “memória” da latitude e longitude magnéticas do momento em que entraram no oceano.
Parece haver dois modos possíveis pelos quais o campo magnético pode influenciar o sistema nervoso de um peixe. O primeiro é que o mineral ferromagnético — magnetita — no cérebro da criatura pode funcionar como uma bússola biológica, acertada no momento de entrada no oceano (a magnetita é encontrada no espectro biológico dos seres, desde bactérias até golfinhos). A informação retida compõe-se de dados verticais e horizontais do campo magnético da Terra naquele ponto, e da inclinação do componente horizontal, que é a diferença entre o norte magnético e o verdadeiro norte, presumivelmente determinada pelo Sol. Esses fatores em conjunto provêm a combinação que é única para qualquer localidade geográfica.7
—LARRY GEDNEY  
A despeito de todas as teorias e experimentos ligados com a migração de pássaros, há muito ainda que não é bem compreendido, como o fato de os pássaros determinarem sua posição em relação a um alvo fixo. O fato é que eles continuam a migrar segundo um modelo cíclico e previsível através dos séculos.
O que faz os pássaros migrarem?
O que faz os pássaros migrarem? Quando é que a prática da migração começou? Alguns cientistas sugerem que as camadas de gelo durante a Era Glacial poderiam ser originalmente responsáveis. Essa ideia parece plausível, mas não explica a migração em muitas partes do mundo que nunca foram tocadas pelas glaciações. Consequentemente, a maioria dos ornitologistas hoje rejeita essa teoria como a causa básica da migração.
Não há dúvida de que os pássaros que surgiram em climas quentes espalharam-se à procura de alimento. A maioria dos cientistas criacionistas têm defendido que a Era Glacial existiu por algumas centenas de anos em algumas áreas depois do Dilúvio de Noé, por causa da mudança do clima. Depois do Dilúvio, muitos pássaros acharam alimento em abundância nas latitudes mais elevadas, mas foram forçados a emigrar com a chegada do inverno.
O que os estimula a empreender sua migração aproximadamente ao mesmo tempo cada ano? Seria porventura um relógio interno ou quem sabe estímulos externos? De um ponto de vista fisiológico, sabemos que as glândulas endócrinas — os controles que fazem os machos cantar e as fêmeas pôr ovos — sofrem grandes mudanças antes da época de nidificação. Outras mudanças ocorrem depois dessa época. Muitos pássaros migram nesse período.
Embora os cientistas evolucionistas possam ter suas opiniões, nós, como cientistas cristãos, podemos atribuir todos esses mistérios magnéticos ao desígnio de Deus, do mesmo modo que fazemos com muitas outras espécies de migração dos animais. Deus fez os pássaros para se adaptarem a mudanças em seu ambiente. Por que os pássaros precisam de energia extraordinária para viajar longas distâncias, esses migrantes têm a capacidade de armazenar um vasto suprimento de combustível em forma de gordura, algumas vezes dobrando de peso. Além disso, a maior maravilha da migração é a maneira como os pássaros acham o caminho — sua habilidade de navegação. Certamente, pode-se ver um desígnio sobrenatural em tudo isso!
Conclusão
A navegação é a parte da migração que mais tem intrigado os cientistas. Como podem os pássaros achar seu caminho com aparente facilidade nas vastas distâncias permanece um enigma migratório não resolvido. Assim eles podem seguir seus invisíveis caminhos com tanta precisão que os cientistas de tempos em tempos têm suspeitado que os pássaros possuem um sentido especial que nos é desconhecido. Pensou-se outrora que eles possuíssem um sentido cinestésico pelo qual podiam reconhecer sua rota através de pressões exercidas sobre seu ouvido interno. Outra ideia era que os pássaros navegavam em resposta ao campo magnético da Terra, talvez mesmo aos seus efeitos rotatórios. Nenhuma dessas hipóteses têm, contudo, resistido a testes experimentais.
A Bíblia, entretanto, nos convida a estudar as maravilhas da Natureza e ver nelas evidências da mão de um sábio Criador: “Pergunta agora às alimárias, e cada uma delas te ensinará; e às aves dos céus, e elas to farão saber.” “Olhai para as aves do céu...e vosso Pai celestial as alimenta”(Jó 12:7, 8; Mateus 6:26).
Assim, o que podemos aprender observando ou estudando a migração dos pássaros? Primeiramente, que nem todos os pássaros migram. Portanto, migração não é a lei de todos os pássaros voadores. Em segundo lugar, eles seguem mais ou menos as mesmas rotas de migração. Essa seleção não pode ocorrer por acaso. Terceiro, antes do pecado não havia migração porque no mundo de antes da Queda não havia clima rigoroso exigindo que arribassem.
Considere a migração e sua relação com o campo magnético e gravitacional da Terra. O campo magnético muda de acordo com a latitude da Terra e a altura. A força da gravidade também muda segundo a latitude, embora usualmente digamos, “a gravidade é constante.” Deus criou a Terra, populou-a com todas as espécies de criaturas e determinou que cada uma delas se adaptasse às suas circunstâncias. Também o Sol emite luz e radiações eletromagnéticas para todas as criaturas. Essas podem ser afetadas pela energia total, embora não o sintam. Deus determinou que os pássaros fizessem bom uso de sua variação mínima de energia e também lhes deu capacidades para detectar mesmo os menores montantes de gravidade e variações no campo magnético, por modos que nos são desconhecidos, e para orientá-los em seu rumo. Na medida em que isso acontece, a migração revela o desígnio inteligente de Deus e Sua benevolente providência.   

Kyu Bong Lee (D.Sc. pela Sungjun University) leciona física na Escola de Ciências Naturais, na Sahmyook University, Seoul, Coréia. E-mail: leekb@syu.ac.kr
Notas e referências
1.   Ver Peter Berthold, Bird Migration: A General Survey (Oxford University Press, 1993); Peter Berthold, Control of Bird Migration (London: Chapman and Hall, 1996).
2.   Ver www.channelone.com/ns/news/96/12/ 96/1205/story1.html; Como os pássaros migram, About Hummingbirds-users.vnet.net/joecool/hummer.fact.html
3.   Stephen Day, “Migration”, New Scientist 135 (12 de Setembro de 1992).
4.   T. Neil Davis, “Magnetic Navigation by Birds”, Alaska Science Forum, Artigo nº 345 (28 de setembro de 1979).
5.   Steve Tomasko, “Mystery of Bird Migration: How They Get Here from There”, em Science Café, Columns (4 de abril de 2000).
6.   Orley Taylor, Jr., Mornarchs’ Migration. E-mail: chip@falcon.cc.ukans.edu
7.   Larry Gedney, “Do Salmon Navigate by the Earth’s Magnetic Field”? Alaska Science Forum, Artigo nº 691 (23 de novembro de 1984).
8.   Ellen G. White, Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1975), pág. 170.
9.   Ellen G. White, Educação (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1977), págs. 117 e 118.
Vivendo em um mundo de guerra e violência: o que o cristão deve fazer?
A guerra começou! De repente, você se depara com questões com as quais nunca havia se defrontado. As discussões em sua aula de ética agora se tornam realidade: não há mais tempo para deliberações descontraídas, não há como entrar em debates acalorados só pelo prazer de tê-los. É a guerra, e você deve fazer decisões difíceis.
Como agir? Um bom lugar por onde começar é considerar o que Jesus teria feito se tivesse que encarar a guerra e a violência. O Sermão do Monte está repleto de diretrizes sobre o assunto. Jesus disse sem ambiguidade e com clareza: “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.” “Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.” “Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que vos perseguem...” (Mateus 5:9, 39, 44).1
Jesus não ficou apenas nas instruções. Ele atuou. Quando os soldados da guarda do templo foram prendê-lo no Getsêmani, Ele não tentou defender-se. A Pedro, que puxou a espada em Sua defesa, Ele disse: “Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão ” (Mateus 26:52). Quando foi crucificado, poderia ter pedido que os exércitos de anjos O libertassem da crueldade da cruz, mas Jesus escolheu morrer em vez de matar.
Os princípios de Jesus em relação à guerra e à violência são aplicáveis ainda hoje. Na maioria dos países, o cristão é pressionado pelo governo a usar armas. Mas ainda assim há várias maneiras possíveis de viver de acordo com o exemplo de Jesus. Seu curso real de ação pode depender de seu ambiente e de sua experiência pessoal, mas há pelo menos oito opções para o cristão considerar.
1. Mudando
Jesus claramente ensinou que não devemos responder à violência com violência, mas Ele não nos instruiu a procurar a perseguição, pôr em perigo nossa vida ou permanecermos onde estamos, independentemente do clima político. Os adventistas do sétimo dia não devem fugir para as montanhas diante dos mais leves problemas; mas é possível que existam ocasiões em que os seguidores de Jesus terão de fazer o que os primeiros crentes em Jerusalém fizeram (Atos 8). Quando a perseguição, conflitos violentos, ou atividades de guerra surgirem, uma simples mudança de lugar pode ser a solução. Cristãos pacíficos optaram por esta escolha durante séculos. Os menonitas, historicamente a primeira igreja pacifista, espalharam-se no mundo inteiro, pois seus membros procuravam países em que não precisassem alistar-se no serviço militar.
Não faz muito tempo, estava conversando sobre guerras com minha filha de dez anos. Sua sugestão imediata? “Por que nós não mudamos para outro país onde eles não lutam?” Naturalmente, não é possível tomar essa decisão de maneira rápida e fácil; mas ainda estou convencido de que a ideia é válida. Afinal de contas, “não temos aqui nenhuma cidade permanente, mas buscamos a que há de vir” (Hebreus 13:14). Decidir-se mudar pode ser uma declaração: a de que o reino de Deus é mais importante para nós que as posses terrenas.
2. Ficando
Nem todos podem se mudar e alguns deliberadamente preferirão ficar. Às vezes, fugir pode significar a negação em assumir responsabilidade social. De fato, seguir Jesus significa permanecer e servir exatamente onde você está. Ficar onde está sem envolver-se em violência pode ser um estímulo para outros. Uma posição firme do cristão de não-participação em atividades de guerra é apaziguante, um visível testemunho para o evangelho.
Mas em alguns casos, ficar não parece ser uma decisão óbvia. Considere Dietrich Bonhoeffer, um pastor e teólogo alemão. Nascido em 1906, Bonhoeffer tornou-se professor universitário aos 24 anos e teve a possibilidade de uma carreira acadêmica brilhante. Foi um dos poucos a reconhecer cedo os perigos inerentes do Socialismo Nacional de Hitler e seus efeitos, tendo um papel-chave no Confessing Church, um movimento de oposição visando exercer influência na igreja protestante alemã do período. Ele havia alcançado reconhecimento acadêmico e também como pastor nos Estados Unidos e na Inglaterra. Poderia facilmente ter se mudado da Alemanha, a fim de encontrar segurança em outro país e ficar longe da perseguição nazista, e de eventual prisão e morte. Mas Bonhoeffer escolheu permanecer para apoiar a oposição silenciosa, permitindo que sua vida e seu ministério testificassem da verdade e da ética cristã. Sua escolha, porém, custou sua própria vida. Permanecer, em seu caso, mostrou-se custoso. Este pode ser o caminho de Cristo para alguns.
3. Palavras de paz: consolando
Talvez a resposta mais natural de um cristão em relação à guerra deveria ser proferir palavras de paz e consolação. Cristo disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27). Se nos mudamos ou permanecemos, ecoar estas palavras onde quer que o Senhor nos coloque é nossa primeira tarefa e nossa maior alegria.
Durante a Guerra da Bósnia, no começo dos anos 1990, Sarajevo, a capital da Bósnia-Herzegóvina, foi cercada por inimigos. O conflito durou quase quatro anos. Fugir da cidade era difícil, bem como permanecer. O pastor adventista Mirko Milovanovic, no entanto, decidiu ir a Sarajevo e servir como um conselheiro, escutando as pessoas, encorajando-as, consolando-as e orando com elas. Poderia ter escolhido ficar numa área mais pacífica onde sua vida não estaria em perigo, mas soube que era seu dever levar palavras de consolo a outros, em vez de somente poupar sua vida.
4. Palavras de paz: confessando, testificando e testemunhando
corretamente em publicar várias declarações de paz.2 Em uma delas (“Paz”, de 1985), afirmamos: “A Igreja Adventista insiste que cada nação converta ‘suas espadas em arados’ e suas ‘lanças, em foices’ (Isaías 2:4). [...] Em um mundo cheio de ódio e contenda, um mundo de guerra ideológica e de conflitos militares, os adventistas desejam ser reconhecidos como pacificadores e trabalhar pela justiça e a paz mundial, tendo a Cristo como o cabeça de uma nova humanidade.”
Tal postura acerca da paz pode significar ter que falar de países que a todo o momento estão em guerra. Não podemos apoiar o uso de violência e devemos deixar isso claro. Não pode haver nenhum acordo nesta questão. Como cidadãos responsáveis pelo Estado aqui e pertencentes ao Reino de Deus, nossa posição inequívoca deve ser a promoção da paz, rejeição de ações militares e repreensão àqueles que advogam violência. Assim, se sustentamos essa visão, precisamos ser “prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mateus 10:16), e devemos deixar claro que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma igreja de paz.
5. Ação de paz: curando
A quinta maneira de seguir a Cristo em momentos de guerra é por meio da cura. Este tem sido o modo de aproximação dos adventistas por muitas gerações. A Guerra Civil Americana estava ocorrendo quando oficialmente nossa denominação foi estabelecida em 1863, e as pessoas foram recrutadas pelo exército. O que os adventistas fizeram? Um debate dentro da denominação emergente levou ao consenso de que os adventistas não serviriam como soldados, mas em vez disso serviriam como não-combatentes, cuidando de doentes e feridos.
Esse ministério é uma aplicação direta das recomendações de Ellen White sobre evitar o uso de armas, mas ainda assim servir ao país. Suas palavras, durante a Guerra Civil Americana, continuam válidas: “Revelou-se-me que o povo de Deus, que é seu tesouro particular, não pode envolver-se nessa desconcertante guerra, pois ela se opõe a todos os princípios de sua fé. No exército eles não podem obedecer à verdade e ao mesmo tempo atender às ordens de seus oficiais. Haveria uma contínua violação de consciência.”3
6. Ação de paz: reconciliando
Enquanto o ministério de Jesus envolveu muito ensino e cura, Sua tarefa mais significativa era a missão de reconciliar a raça humana com Deus. Assim, ações cristãs de paz devem incluir o ministério de reconciliação, mesmo entre grupos que estão sempre em conflito uns com os outros. O romancista austríaco Stefan Zweig disse: “Assim como ocorre com a guerra, é preciso alguém para iniciar a paz.” Por que esta pessoa não pode ser você?
É triste notar que na história poucos líderes cristãos fizeram um trabalho de reconciliação entre grupos opositores. O bispo sul-africano Desmond Tutu é um deles. Quando o apartheid resultou em choques violentos, o bispo Tutu falou contra a desprezível política de segregação racial enquanto trabalhou incessantemente para reconciliar os grupos em guerra. Quando o apartheid acabou e uma nova África do Sul emergiu, ele presidiu a Comissão da Verdade e Reconciliação, uma pioneira e histórica aproximação para lidar com a violência que fora cometida, com o crime e o desejo de vingança. Em vez de invocar a lei de vingança e recompensa, Bispo Tutu iniciou um movimento nacional de confissão, perdão e reconciliação. Podemos, como adventistas, ser conhecidos em toda parte como as pessoas da verdade e da reconciliação?
7. Arriscando a vida
Vários países não oferecem a opção de não-combatente para aqueles que se opõem ao uso de armas. Serviço militar – forçado, voluntário, ou de outra modalidade – exige treinamento para carregar armas. Nenhuma alternativa é fornecida. Em meu país, Alemanha, os jovens agora têm a oportunidade de servir seu país escolhendo portar armas ou servir em um hospital ou trabalhar em asilos. Porém, essa liberdade não esteve sempre presente.
Onde tal liberdade não está disponível, o que se deve fazer? O que Jesus faria? Estou convencido de que Ele tomaria o caminho difícil, o caminho do evangelho. Considere Franz Hasel, um adventista cuja história foi escrita pela sua filha Susi Hasel Mundy no livro Mil Cairão ao Teu Lado.4 Quando Hasel foi convocado durante a II Guerra Mundial, ele se voltou ao Senhor em oração: “Ajuda-me a permanecer leal à minha fé”, orou, “mesmo no exército. Ajuda-me para que eu não tenha que matar ninguém”. Para assegurar-se de que não agiria contra sua oração, trocou a arma por um pedaço de madeira que parecia com um revólver. Essa atitude poderia ter lhe custado a vida. Nessa terrível guerra, ele foi salvo por uma série de milagres, alguns dos quais você somente pode experimentar se estiver pronto a arriscar a sua vida em nome da fé.
8. Dando sua vida
A oitava maneira de seguir a Jesus em tempos de guerra é a mais difícil. Arriscar a vida, por si só, já é surpreendente, mas o que dizer de doá-la? Deus não exige isso de todo mundo, mas um dia você pode ser chamado para decidir se quer matar ou aceita ser morto.
Há sete anos, vivi perto de Arusha, Tanzânia, onde o Tribunal Criminal Internacional para Ruanda (ICTR) está localizado. Esta é a corte que lida com pessoas que são acusadas de estarem envolvidas no genocídio em Ruanda em 1994. Lamentavelmente, vários adventistas também tiveram que comparecer perante o tribunal, sendo um deles um pastor e líder afastado. Os juízes do ICTR declararam que o pastor não teve qualquer parte em planejar ou programar atos de genocídio. Ainda assim, recebeu uma sentença de dez anos por “ajudar e ser cúmplice no genocídio”.
Por que tal sentença? No meio da violência, com os exércitos dos tutsis atacando o país pelo norte e os hutus massacrando centenas de milhares de tutsis no país, o que um pastor realmente podia fazer? Este pastor, em particular, era a autoridade moral na área da missão, um campus universitário com um hospital e uma escola. Embora os juízes não pudessem responsabilizá-lo por ativamente promover injustiça, eles julgaram-no culpado – porque ele não tinha feito tudo o que ele podia. Em outras palavras, ele devia ter parado a milícia, arriscado a sua vida e se sacrificado pelos outros.
Não estou seguro de como eu teria agido nesse caso em particular, mas os juízes fizeram uma observação. Como cristãos, devemos estar prontos para dar nossa vida no lugar de matar ou tolerar o assassinato que invariavelmente é associado à guerra ou violência popular.
O que Jesus teria feito?
Em um mundo de violência, injustiça e guerra, Jesus não mostrou nenhuma amargura. Ele preferiu consolar. Em um clima cheio de nacionalismo, Ele não escolheu um partido. Finalmente, foi visto como inimigo por ambos os lados. Em uma época onde havia pleno temor, não ficou calado, mas falou a verdade. Em uma sociedade na qual pertencer a um grupo significava estar contra o outro grupo, Ele colocou o fundamento para a reconciliação. Estava pronto para ser morto, embora tivesse toda a força do universo em Suas mãos. Você está pronto para segui-Lo?
Stefan Höschele, PhD pela Universidade de Malawi, África Central, leciona Teologia Sistemática e Missão na Universidade Adventista de Friedensau, Alemanha. Esteve a serviço na África por sete anos (na Tanzânia e Argélia) e está atualmente envolvido em planejamento de programas com concentração em Estudos de Missão e Estudos Adventistas (veja www.thh-friedensau.de/mts). E-mail: stefan.hoeschele@thh-friedensau.de
REFERÊNCIAS:
1. A menos que declarado de outra forma, todas as referências da Escritura são da Nova Versão Internacional.
2. Declarações da Igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003. pp. 66-67.
3. Ellen G. White. Testemunhos para a Igreja. v. 1. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000. p. 361.
4. Susi Hasel Mundy e Maylan Schurch. Mil Cairão ao Teu Lado. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003. p. 12.



                                                    O desejo de adornar o corpo com vestimentas que chamam a atenção, jóias custosas e cosméticos coloridos toca quase todos. Não é surpreendente, portanto, que através da história bíblica e da igreja tem havido apelos frequentes para que nos vistamos modesta e decentemente.


Que Devo Vestir?



O ensino bíblico sobre vestimenta e ornamentos é especialmente relevante hoje, quando muitos na indústria da moda atuam com pouco respeito pela dignidade do corpo humano criado por Deus. Neste artigo, apresentarei sete princípios básicos que podem guiar os cristãos em desenvolver uma filosofia de adorno pessoal. Estes princípios são o resultado de estudar exemplos bíblicos, alegorias e admoestações concernentes a vestuário, jóias e cosméticos.1
Princípio nº 1
Vestuário e aparência são um índice importante do caráter cristão. Vestuário e aparência são comunicadores não-verbais poderosos não apenas de status sócio-econômico como também de valores morais. William Thourlby, renomado conselheiro em matéria de vestuário, que aconselha executivos sobre "como se empacotar para ter êxito", assinala que "inconscientemente ou não o vestuário revela um grupo de crenças sobre nós mesmos que queremos que o mundo creia".2 O mundo de negócios há muito reconheceu a importância de vestuário e aparência em comercializar seus produtos, serviços e a imagem de suas companhias.
A Bíblia também reconhece a importância do vestuário. Implicitamente, isto é indicado pelo simbolismo de vestuário modesto usado para representar a provisão divina de salvação ("vestes de salvação", Isaías 61:10; ver também Apocalipse 3:18; I Pedro 5:5) e de veste imodesta para representar adultério espiritual e apostasia (Ezequiel 23:40-42; Jeremias 4:30; Apocalipse 17:4-6). Explicitamente, isto é indicado pelas numerosas histórias, alegorias e admoestações concernentes a vestuário e adorno apropriados ou não.
A Bíblia encara a aparência externa como um testemunho visível e silente de nossos valores morais. Há pessoas que vestem e adornam seu corpo com vestes caras e jóias para se comprazer. Querem ser admiradas por sua riqueza, poder ou status social. Algumas se vestem de acordo com certas modas para serem aceitas por seus pares. O cristão se veste para glorificar a Deus.
O vestuário é importante para os cristãos porque serve de moldura para revelar a imagem dAquele a quem servem. Escreveu Ellen White: "De nenhum modo melhor pode você fazer brilhar sua luz para outros do que na simplicidade de sua veste e conduta. Você pode mostrar a todos que, em comparação com as coisas eternas, você atribui um valor correto para as coisas desta vida."3
Como cristãos não podemos dizer: "Minha aparência não é da conta de ninguém!" porque nossa aparência reflete sobre nosso Senhor. Minha casa, minha aparência pessoal, o veículo que possuo, meu uso do tempo e do dinheiro -- todos refletem como Cristo tem mudado minha vida de dentro para fora. Quando Jesus entra em nossa vida, Ele não cobre nossas manchas com pó cosmético. Em vez disto, Ele nos limpa inteiramente a partir do interior. Esta renovação interior reflete-se na aparência exterior.
O testemunho mais eficaz da mudança que Cristo operou no interior é um sorriso radiante no rosto de uma pessoa limpa e vestida apropriadamente. Uma aparência artificial e muito sofisticada, com jóias cintilantes e vestes extravagantes, revela não a radiância de uma personalidade centrada em Deus, mas a imagem artificial de uma pessoa egocêntrica.
Princípio nº 2
O adornar nossos corpos com cosméticos coloridos, jóias cintilantes e vestes luxuosas revela orgulho e vaidade, que são destrutivos para nós e para outros. Esta verdade emerge implicitamente de vários exemplos negativos e explicitamente das admoestações apostólicas de Paulo e Pedro.
Isaías censura judias ricas por seu orgulho evidenciado por se adornarem da cabeça aos pés com jóias cintilantes e vestes caras. Elas seduziram os líderes, os quais eventualmente levaram a nação à desobediência e castigo divino (Isaías 3:16-26).
Jezabel destaca-se na Bíblia por seu esforço para induzir os israelitas na idolatria. A corrupção de seu coração é revelada pela tentativa que fez em sua última hora de parecer sedutora, pintando seus olhos e adornando-se para a chegada do novo rei, Jeú (II Reis 9:30). Mas o rei não foi enganado e ela morreu de uma morte ignominiosa. Por causa disto, seu nome tornou-se um símbolo de sedução na história bíblica (Apocalipse 2:20).
Ezequiel dramatiza a apostasia de Israel e de Judá mediante a alegoria de duas mulheres, Oolá e Oolibá, as quais, como Jezabel, pintaram seus olhos e se cobriram de adornos para tentar homens ao adultério (Ezequiel 23). Nesta alegoria achamos de novo cosméticos e ornamentos associados com sedução, adultério, apostasia e castigo divino.
Jeremias também usa uma alegoria semelhante para representar Israel abandonada politicamente, que em vão procura atrair seus aliados idólatras de antes (Jeremias 4:30). Mais uma vez, cosméticos e jóias são usados para seduzir homens a praticar o adultério.
No Apocalipse, João provê um retrato profético de uma grande prostituta "vestida de púrpura e de escarlate, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas" (Apocalipse 17:4). Esta mulher impura, que representa a potência apóstata do tempo do fim, seduz os habitantes da Terra a cometer fornicação espiritual com ela. Em contraste, a noiva de Cristo, está vestida modestamente de linho puro e fino sem adornos exteriores (Apocalipse 19:7 e 8).
Assim, com poucas exceções metafóricas (Isaías 61:10; Jeremias 2:32; Ezequiel 16:9-14), tanto o Antigo como o Novo Testamento relacionam o uso de cosméticos coloridos, jóias cintilantes e vestes que atraem a atenção com apostasia e rebelião contra Deus. Esta série de exemplos revela a condenação divina de tal prática. O que é ensinado implicitamente no Antigo Testamento através de exemplos negativos é reiterado positivamente no Novo Testamento pelos apóstolos Paulo e Pedro em sua condenação do uso de jóias e vestes luxuosas.
Ambos os apóstolos contrastam o adorno apropriado de mulheres cristãs com os ornamentos inapropriados de mulheres mundanas. Ambos os apóstolos nos dão essencialmente a mesma lista de adornos inapropriados (I Timóteo 2:9 e 10; I Pedro 3:3 e 4). Ambos os apóstolos reconhecem que, tanto para homens como para mulheres, os adornos exteriores do corpo são incoerentes com os adornos interiores apropriados do coração -- um espírito manso e atos benevolentes.
Princípio nº 3
Para experimentar renovação interior e reconciliação com Deus, é necessário remover todos os objetos exteriores de idolatria, incluindo jóias e adornos. Esta verdade é expressa especialmente através da experiência da família de Jacó em Siquém e dos israelitas no Monte Horebe. Em ambos os casos, adornos foram removidos para efetuar reconciliação com Deus.
Em Siquém Jacó apelou aos membros da família para que removessem seus ídolos e adornos (Gênesis 35:2 e 3) como um meio de preparar-se para uma purificação interior espiritual junto ao altar que pretendia edificar em Betel. A resposta foi louvável: "Então deram a Jacó todos os deuses estrangeiros que tinham em mãos, e as argolas que lhes pendiam das orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém (Gênesis 35:4).
No Monte Horebe Deus pediu que os israelitas removessem seus atavios como prova de seu arrependimento sincero por terem adorado o bezerro de ouro: "Tira, pois, de ti os atavios; para que Eu saiba o que te hei de fazer" (Êxodo 33:5). De novo a resposta do povo foi positiva: "Então os filhos de Israel tiraram de si seus atavios desde o Monte Horebe em diante" (Êxodo 33:6). A frase "desde o monte Horebe" (Êxodo 33:6) implica que os israelitas arrependidos assumiram um compromisso junto ao Monte Horebe de descontinuar o uso de atavios a fim de mostrar seu desejo sincero de obedecer a Deus. Tanto em Siquém como no Monte Horebe, a remoção de jóias ornamentais contribuiu a preparar o povo para uma renovação do concerto com Deus.
Essas experiências nos ensinam que o uso de jóias ornamentais contribui para a rebelião contra Deus -- promovendo a glorificação própria -- e que sua remoção facilita reconciliação com Deus encorajando uma atitude humilde. Portanto, para experimentar renovação espiritual e reforma, precisamos remover de nossos corações os ídolos que acariciamos -- quer sejam exaltação própria, realização profissional ou posses materiais -- e substituí-los por devoção a Deus.
Princípio nº 4
Os cristãos devem vestir-se de modo modesto e apropriado, evitando extremos. Este princípio se acha no uso que Paulo faz do termo kosmios (bem-ordenado) para descrever o adorno apropriado do cristão (I Timóteo 2:9). Quando se refere ao vestuário, o termo significa que o cristão deve vestir-se de um modo bem-ordenado, decoroso e apropriado. Este princípio nos desafia a dar atenção à nossa aparência pessoal, mas evitando extremos.
Vestir-se modestamente implica em que o vestuário deve prover cobertura adequada para o corpo de modo que outros não sejam embaraçados ou tentados. Este princípio é especialmente relevante hoje quando a indústria de modas procura vender vestes, jóias e cosméticos que exploram os poderosos impulsos sexuais do corpo humano, mesmo se isto significa vender produtos que promovem orgulho e sensualidade.
Podemos violar o princípio da modéstia tanto pela negligência da aparência pessoal como por dar excessiva atenção a ela. Aconselha Ellen White: "Vista-se com bom gosto e de modo apropriado, mas não se faça objeto de observações quer se vestindo de modo ostensivo, quer por se vestir de modo relaxado e desasseado. Aja como se soubesse que o céu o observa, e que você está vivendo sob a aprovação ou desaprovação de Deus."4
Princípio nº 5
Os cristãos devem vestir-se de modo decente e digno, mostrando respeito para com Deus, para consigo e para com os outros. Este princípio se encontra no uso que Paulo faz do termo aidos (decência, reverência) para descrever o adorno cristão apropriado (I Timóteo 2:9). Os cristãos mostram reverência e respeito vestindo-se decente e sensatamente, sem causar vergonha ou embaraço a Deus, a outros ou a si mesmos.
Este princípio é especialmente relevante hoje, quando a indústria de modas freqüentemente rejeita respeito e decência como base para relações humanas construtivas. A Bíblia explicitamente condena a aparência sedutora: "Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela" (Mateus 5:28). As vestes reveladoras promovidas por alguns modistas da vanguarda despertam paixões sensuais em quem contempla e contribui para a depravação atual. Vestindo-se modestamente, os cristãos desempenham papel importante em manter a moralidade pública.
Deus nos convida a nos vestir modesta e decentemente, não só para prevenir o pecado, mas também para preservar intimidade. Pessoas que querem pecar pecarão não importa quão modestamente vestidas estão as pessoas que vêem. O propósito da modéstia é não só de prevenir desejos sensuais, mas também preservar algo que é muito frágil e não obstante fundamental para a sobrevivência da relação conjugal: a habilidade de manter uma relação íntima com seu cônjuge. Se o casamento há de durar a vida toda, como Deus planejara, então marido e mulher devem cooperar para preservar, proteger e nutrir a intimidade. Modéstia e decência preservarão o gozo da intimidade muito depois de terem soado os sinos do casamento.
Princípio nº 6
Os cristãos devem vestir-se sobriamente, evitando o exibicionismo. Este princípio se encontra no uso que Paulo faz do termo sophrosune (sobriedade) para descrever o adorno próprio do cristão (I Timóteo 2:9). Este termo denota uma atitude de domínio próprio, uma atitude que determina todas as demais virtudes. O apóstolo reconhecia que o domínio próprio é indispensável em ajudar o cristão a vestir-se modesta e decentemente.
Paulo descreve a mulher cristã convertida como a que se veste sobriamente, restringindo seu desejo de exibir-se pelo uso de penteados complicados, ouro, pérolas ou vestes dispendiosas (I Timóteo 2:9). Sua aparência não diz: "Olhe para mim; admire-me", mas sim: "Olhe como Cristo me mudou de dentro para fora". Uma cristã ou um cristão que foram libertados da preocupação constante de ser objeto de admiração não recearão usar a mesma indumentária freqüentemente, se é bem feita, modesta e cai bem.
A admoestação de Paulo para restringir o desejo de comprar e usar "roupas dispendiosas" (I Timóteo 2:9) também sublinha o princípio de mordomia cristã. Gastar além de nossos recursos é incompatível com o princípio cristão de mordomia. Mesmo se está a nosso alcance comprar vestes dispendiosas, não nos cabe desperdiçar meios que Deus nos tem dado quando há tanta necessidade de ajudar os carentes e de alcançar os que ainda não conhecem o evangelho.
Princípio nº 7
Os cristãos devem respeitar as distinções de sexo usando vestes que afirmam sua identidade masculina ou feminina. Este princípio é ensinado na lei que se acha em Deuteronômio 22:5, que proíbe o uso de roupas do sexo oposto. Um comentário bíblico, que reflete a opinião de muitos estudiosos, assinala: "O objetivo imediato desta proibição não era de impedir a licensiosidade, ou opor práticas idólatras...mas de manter a santidade da distinção dos sexos que foi estabelecida pela criação do homem e da mulher."5
Este princípio é particularmente relevante hoje, quando muitos no mundo da moda não mais exclamam: "Viva a diferença!", antes dizem: "Viva a semelhança!" De fato, a semelhança entre os estilos de penteado e as vestes de homens e mulheres têm se tornado tão grande que sua identidade é facilmente confundida.
A Bíblia considera importante preservar as distinções de sexo no vestuário. Isto é importante para nossa compreensão do que somos e do papel que Deus quer que desempenhemos. O vestuário define nossa identidade. Um homem que quer ser tratado como mulher provavelmente usará jóias, perfumes e vestes ornadas como as mulheres. De igual modo, uma mulher que quer ser tratada como homem provavelmente se vestirá como homem.
A Bíblia não nos diz que estilo de vestuário homens e mulheres devem usar, porque reconhece que o estilo é ditado pelo clima e a cultura. A Bíblia nos ensina a respeitar a distinção de sexo no vestuário conforme as normas da nossa própria cultura. Isto significa que como cristãos devemos nos perguntar ao comprar roupa: "Este artigo afirma minha identidade sexual, ou me faz parecer como se fosse do sexo oposto?" Quando sentir que certo tipo de vestimenta não pertence a seu sexo, siga sua consciência: não o compre, mesmo se estiver na moda.
Numa época em que a moda se inclina em abolir distinções de sexo no vestuário, nem sempre é fácil para cristãos acharem indumentária que afirma sua identidade sexual. Nunca foi fácil viver de acordo com princípios bíblicos. Mas esta é nossa vocação cristã -- não nos conformar com os valores e estilos de nossa sociedade, mas ser uma influência transformadora neste mundo pela graça de Deus.
Conclusão
O vestuário não faz o cristão, mas cristãos revelam sua identidade por sua maneira de vestir e aparência. A Bíblia não prescreve um vestuário normativo, mas nos convida a seguir a simplicidade e ausência de pretensão do estilo de Jesus, mesmo em nossa indumentária e aparência.
Seguir a Jesus em nosso vestuário e aparência significa distinguir-se da multidão, não se pintando, não se cobrindo de jóias e não se embonecando como tantas pessoas fazem hoje. Isto exige coragem e discernimento. Coragem para não se conformar com os ditames sedutores da moda, mas ser transformado pelas diretrizes da Palavra de Deus (Romanos 12:2). Discernimento para distinguir entre a moda caprichosa que muda e o estilo sensato que perdura. Coragem para revelar a beleza do caráter de Cristo, não pelo adorno exterior do corpo " com ouro, pérolas ou vestes dispendiosas", mas pelo embelezamento interno da alma com as graças do coração e o espírito manso e tranqüilo que é precioso aos olhos de Deus (I Pedro 3:3 e 4). Coragem para vestir-se, não para glorificar a nós mesmos, mas para glorificar a Deus, vestindo-se modesta, decente e sobriamente.
Nossa aparência é um testemunho constante e silencioso de nossa identidade cristã. Possa ela sempre dizer ao mundo que vivemos para glorificar a Deus e não a nós mesmos.
Samuele Bacchiocchi (Doutor em Teologia, Universidade Pontifícia de Roma), leciona Teologia e História da Igreja na Andrews University. É o autor de muitos livros, entre eles, The Marriage Covenant, Wine in the Bible, The Advent Hope for Human Hopelessness e Do Sábado para Domingo
Notas e referências
1.   Este artigo é adaptado do meu livro Christian Dress and Adornment (Berrien Springs, Mich.: Biblical Perspectives, 1994). O livro pode ser adquirido de Adventist Book Centers ou pelo correio (US$13,00) de Biblical Perspectives, 4990 Appian Way, Berrien Springs, Michigan 49103, E.U.A.
2.   William Thourlby, You Are What You Wear (New York: New American Library, 1980). pág. 52.
3.   Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ. Assn., 1948), vol. 3, pág. 376.
4.   Ellen G. White, Orientação da Criança (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993), pág. 415.
5.   C. F. Keil e F. Delitzsch, Biblical Commentary on the Old Testament (Edinburgh: T. and T. Clark, 1873). Na mesma veia, J. Ridderbos escreve: "Estas proibições tinham em vista inculcar respeito pela ordem divina da criação e para a distinção entre sexos e espécies que ela apresenta" (Deuternomy [Grand Rapids, Mich.: Regency Reference Library, 1984], pág. 135). Ver também The Interpreter's Bible Commentary (Grand Rapids, Mich.: Zondervan, 1992), vol. 3, pág. 135.